– Brutalidade policial continua mesmo após encontro entre Daniel Chapo e Venâncio Mondlane para acabar com a violência
Por Carlos Mhula
Xai-Xai (MOZTIMES) – Na quarta-feira, 26 de Março, agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) dispararam mortalmente contra um cidadão de 20 anos na cidade de Xai-Xai, província de Gaza, durante protestos de automobilistas contra a reinstalação de um posto policial no Bairro 8.
Segundo testemunhas, a vítima, de nome Guiven Armando Bulule, não participava na manifestação, mas encontrava-se nas imediações do local onde os transportadores se manifestavam. O incidente gerou revolta, levando os manifestantes a transportar o corpo até ao Comando Provincial de Gaza, onde foram dispersos com gás lacrimogéneo.
“Ele não estava a participar das manifestações. Ia fazer compras na cidade. Quando chegou ali, a confusão já tinha começado. Foi atingido com uma bala na boca, que lhe partiu todos os dentes. Quando caiu, ficou muito tempo sem socorro”, contou ao MOZTIMES Graciosa Muguambe, cunhada da vítima. “A polícia disse que não tinha meio de transporte para prestar socorro”, acrescentou.
O protesto visava contestar a reabertura de um posto policial junto à ponte sobre o Rio Limpopo, localmente conhecido por “Pontinha”. Agentes destacados nesse posto têm sido alvo de críticas devido a alegadas cobranças ilícitas por parte da Polícia de Trânsito, principalmente contra transportadores semi-colectivos.
A violência policial na província de Gaza tornou-se recorrente no contexto dos protestos pós-eleitorais.
No dia 22 de Março, Estêvão Muane, de 34 anos, motorista de transporte público na rota Chonguene–Maputo, foi baleado no peito durante protestos contra a reinstalação do mesmo posto policial. Muane esteve hospitalizado durante seis dias e, após receber alta, dirigiu-se à Primeira Esquadra para apresentar queixa contra os agentes envolvidos no disparo.
“No sábado, enquanto fazia a recolha de passageiros, encontrei a estrada bloqueada por outros motoristas, que diziam estar a protestar por causa de um posto policial. A polícia apareceu, incluindo o chefe das operações e o comandante, e ordenaram a repressão. Começaram a disparar e a lançar gás lacrimogéneo, e todos fugimos”, relatou Muane ao MOZTIMES.
“Tentei voltar ao meu carro para recuperar o meu telefone, mas, quando me aproximei, um agente chamado Miguel atirou directamente contra mim. O tiro acertou-me no peito, e caí no chão, a pedir socorro, mas ninguém ajudou. Fiquei cerca de 30 minutos ali, a sangrar, até que os meus colegas me levaram ao hospital. Recebi atendimento, mas, depois da alta, não recebi qualquer apoio e tive de comprar os medicamentos por conta própria”, acrescentou.
O porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Gaza, Carlos Macuácua, confirmou a acção policial em declarações ao MOZTIMES, explicando que a intervenção visava restaurar a ordem pública.
“A polícia foi chamada para controlar uma situação de perturbação da ordem pública. No entanto, tivemos o ferimento de um cidadão de forma acidental e um cidadão perdeu a vida”, afirmou Macuácua.
Um encontro entre o Presidente Daniel Chapo e o líder da oposição, Venâncio Mondlane, realizado a 23 de Março, teve como objectivo anunciar o fim da violência protagonizada pelas Forças de Defesa e Segurança contra jovens envolvidos em protestos, bem como da violência popular contra agentes das FDS.
Mondlane anunciou ter alcançado consensos com Daniel Chapo para pôr termo à violência pós-eleitoral em Moçambique, afirmando que o Presidente se comprometeu a tomar medidas para que as FDS cessem as acções repressivas.
Os protestos pós-eleitorais resultaram na morte de pelo menos 362 pessoas em confrontos com as forças policiais, segundo a plataforma Decide. (MT)