Bancos Abrem Linha de Crédito de USD 150 Milhões com Taxas de Juro Bonificadas

- Empresários muçulmanos não aderem aos financiamentos devido a taxas de juro variáveis

- Protestos já causaram prejuízos de 32 mil milhões de meticais, cerca de 3% do PIB

Por Aurélio Muianga

Maputo (MOZTIMES) – Os bancos comerciais filiados à Associação Moçambicana de Bancos (AMB) vão disponibilizar, de Março a Setembro deste ano, uma linha de crédito de 10 mil milhões de meticais (cerca de USD 150 milhões) para financiar a tesouraria e o investimento de empresas afectadas pelos protestos pós-eleitorais.

O financiamento faz parte das medidas de recuperação económica e garantia da sustentabilidade das Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME) anunciadas pelo Governo, mas inclui também grandes empresas que tenham sido directamente afectadas pelos protestos populares, empreguem até 100 trabalhadores e apresentem um volume anual de negócios não superior a 160 milhões de meticais.

O prazo de reembolso do empréstimo é de até 12 meses para o financiamento de tesouraria e pode estender-se até cinco anos se for destinado a investimento.

A taxa de juro aplicada aos mutuários será de 15% fixos no primeiro ano da vigência do empréstimo, passando a variar a partir do segundo ano, conforme a taxa de juro vigente na banca, mas com um desconto de 4% em relação a esta, explicou o presidente da AMB, Teotónio Comiche, durante o lançamento da linha de crédito na passada sexta-feira, em Maputo.

As empresas beneficiárias terão isenção de comissões de processamento de crédito, que normalmente representam até 10% do valor total do empréstimo. Cada empresa poderá aceder a um máximo de 20 milhões de meticais e, para ser elegível, deve ter a sua situação fiscal regularizada.

Segundo o presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Agostinho Vuma, os protestos que ocorrem um pouco por todo o país desde as eleições de Outubro passado já causaram prejuízos de 32 mil milhões de meticais, o equivalente a cerca de 3% do PIB. “Se a situação continuar até ao final do ano, o país pode perder um terço da economia", alertou Vuma.

Entretanto, Muhammad Abdullah, Director Executivo da COTUR, uma das maiores agências de viagens de Moçambique, afirmou que os empresários muçulmanos não vão aderir ao crédito, pois a religião não permite que "trabalhem com empréstimos bancários com taxas de juro variáveis”.

Segundo explicou, o Islão impede a concessão ou contratação de empréstimos com taxas de juro variáveis. “Podemos, sim, aderir em casos de crédito com taxas de juro parceladas e fixas ao longo do prazo do empréstimo", esclareceu Abdullah.

Falando no evento, a ministra das Finanças, Carla Louveira, apresentou dados que mostram como a crise pós-eleitoral afectou negativamente a economia. Segundo a governante, o sector secundário foi o mais atingido, registando uma variação negativa de 8,9%, com destaque para a indústria manufactureira, que sofreu uma redução de 11% devido à vandalização de 19 fábricas e unidades industriais.

O sector primário também foi fortemente afectado, apresentando uma variação negativa de 4,8%, com particular incidência na Indústria Extractiva, que registou uma redução de 10,1%.

O sector terciário sofreu uma contracção de 3,8%, impulsionada pelo ramo de Hotéis e Restaurantes, que registou uma variação negativa de 14,7%, e pelo Comércio e Serviços de Reparação, que teve uma queda de 10,6%, resultante da destruição de 23 armazéns comerciais e 1.677 estabelecimentos comerciais. (AM)

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