Por Noémia Mendes
Maputo (MOZTIMES) – Na madrugada desta quinta-feira, desconhecidos assassinaram o presidente da Comissão Distrital de Eleições do distrito de Inhassunge, província da Zambézia, Joaquim Salimo, segundo informou, em entrevista telefónica, o Administrador do Distrito, Bernardo Cutane.
O assassinato foi precedido de um assalto ao comando distrital da polícia, no qual foram roubadas armas de fogo. Uma funcionária sénior do partido Frelimo foi espancada e encontra-se hospitalizada. As autoridades locais no distrito estão em fuga.
“Às três da manhã, chegou um grupo que assaltou o comando [da polícia], queimou uma viatura do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), e, em seguida, dirigiu-se à casa de uma secretária da administração e finanças do partido [FRELIMO], vandalizaram a residência e começaram a atacá-la com uma catana. Ela está hospitalizada”, relatou Cutane em entrevista telefónica.
“Mataram o presidente da Comissão Distrital de Eleições a tiros e depois o cortaram com catanas. Vandalizaram sua residência e depois foram à administração, ao tribunal e ao comando, onde estavam detidos os reclusos, e os libertaram. No tribunal também vandalizaram”, descreveu Cutane, acrescentando que ainda está a ser feito o levantamento dos estragos.
Esses crimes ocorrem num contexto de crise pós-eleitoral em Moçambique, em que cidadãos protestam contra os resultados das eleições de 9 de Outubro, que deram a vitória ao partido no poder, Frelimo, sob fortes alegações de fraude. A polícia tem respondido aos protestos com violência, disparando balas reais contra manifestantes.
Até agora, o distrito de Inhassunge não havia sido palco de manifestações contra os resultados eleitorais, mas a cidade de Quelimane, localizada do outro lado da margem do Rio dos Bons Sinais, foi ontem cenário de manifestações e de violência policial. Nessa ocasião, o presidente do município local, Manuel de Araújo, foi atingido por gás lacrimogéneo. Quelimane é governada pela RENAMO.
Um líder tradicional de Inhassunge, que preferiu manter o anonimato, afirmou que está em fuga e descreveu a situação vivida no distrito como de “terror”.
“Estamos numa situação crítica. Esquartejaram o chefe da Comissão Distrital de Eleições, Salimo, ontem à noite, e ele está em pedaços. Fugimos das nossas residências e estamos a tentar escapar dessa situação; o nosso régulo, o chefe do posto, também está a fugir”, relatou ele, em entrevista telefónica. (NM)