– PODEMOS pode perder credibilidade popular se se aliar à FRELIMO
– Reformas anunciadas por Daniel Chapo com risco de sofrer oposição interna da FRELIMO
Por MOZTIMES
Maputo (MOZTIMES) – Daniel Chapo tomou posse como quinto presidente de Moçambique, num contexto de grande contestação popular contra os resultados das eleições e à governação da FRELIMO. Venâncio Mondlane, o principal opositor de Chapo, reivindica vitória nas mesmas eleições e goza de grande apoio popular. Analistas consideram imprescindível o diálogo político entre Daniel Chapo e Venâncio Mondlane para viabilizar a governação.
No debate desta quinta-feira do MOZCAST (o podcast do THE MOZAMBIQUE TIMES – MOZTIMES), analistas destacaram a urgência do diálogo para evitar o prolongamento da crise pós-eleitoral.
“Não será possível Daniel Chapo governar este país sem encontrar uma plataforma de entendimento com a principal força da oposição, representada por Mondlane”, afirmou Fernando Gonçalves, jornalista e editor do jornal Savana, um dos mais importantes de Moçambique.
Para Gonçalves, a iniciativa de estabelecer diálogo deve partir de Daniel Chapo, frisando que deve ser “um diálogo honesto e produtivo”.
Xavier Nhanala, analista político que participou do mesmo podcast, referiu que o principal líder da oposição, Venâncio Mondlane, está a ser deixado à margem do actual processo de diálogo iniciado por Filipe Nyusi, o presidente cessante. Isso, segundo ele, pode minar a governação de Chapo.
“Daniel Chapo está a entrar num campo minado e, se ele não o desminar, vamos assistir a explosões sociais diárias”, afirmou.
No seu discurso inaugural, Chapo prometeu reformas profundas, incluindo a redução de privilégios dos dirigentes do Estado para investir nos sectores sociais como educação e saúde, que foram completamente marginalizados nos últimos 10 anos da governação de Nyusi. Para Nhanala, o partido FRELIMO pode ser um dos principais obstáculos para Chapo concretizar as reformas anunciadas.
“Há uma necessidade de Daniel Chapo e o seu partido se reconciliarem com o povo”, afirmou Nhanala.
O jornalista do Zitamar, Fernando Lima, concorda que o primeiro passo da governação de Daniel Chapo deve ser o diálogo com Venâncio Mondlane.
“Se ele conseguir isso, estou certo de que os primeiros 100 dias decorrerão muito melhor e sem o clima de confrontação em que vivemos neste momento”, disse Lima no MOZCAST de terça-feira. “Nenhum outro chefe de Estado herdou um país tão miserável e em condições tão deploráveis como este”, acrescentou.
Lima destacou ainda a ausência dos partidos da oposição, o MDM e a RENAMO, na investidura dos deputados, nesta segunda-feira, na Assembleia da República. Afirmou que, se o partido PODEMOS tivesse boicotado a investidura, a mensagem seria muito mais forte.
“Se o PODEMOS tivesse boicotado esta cerimónia, teríamos uma situação com muito mais impacto político, porque seria uma cerimónia de um único partido, que está envolvido com a fraude eleitoral”, afirmou.
A presença do PODEMOS na tomada de posse foi interpretada como seu alinhamento com a FRELIMO. Para Lima, isso pode retirar a legitimidade do partido, que é formado por dissidentes da FRELIMO, como uma verdadeira oposição.
“Caso o PODEMOS continue alinhado com a FRELIMO, mesmo contra a oposição popular, sua credibilidade será irremediavelmente comprometida”, afirmou.” O PODEMOS passaria a ser visto como uma ‘muleta’ do partido dominante, perdendo sua identidade como partido de oposição e, consequentemente, sua relevância política no cenário moçambicano”, acrescentou Lima.
O MOZCAST é um podcast de debate democrático oferecido pelo MOZTIMES, que discute os temas candentes da sociedade. É transmitido todas as quintas-feiras às 21h00, com edições especiais sempre que necessário. É apresentado pela jornalista Slide Mutemba. (MT)