Por MOZTIMES
Maputo (MOZTIMES) -“Um obrigado muito especial a estes nossos parceiros da CIA (Serviço de Inteligência dos Estados Unidos da América)”, lê-se num cartaz de campanha eleitoral com a cores e símbolo do PODEMOS, o partido político que apoia Venâncio Mondlane, candidato presidencial independente às eleições de 9 de Ooutubro em Moçambique.
Os escritos ilustram uma foto de multidão apoiante de Venâncio Mondlane e PODEMOS, destacando-se dois homens brancos barbudos ambos com bonés. O cartaz foi circulado pelas redes sociais, sobretudo o WhatsApp, no dia 20 de Setembro, cerca de um mês após o início da campanha eleitoral.
Não se conhece o autor do cartaz, mas este tipo de informação em períodos eleitorais pode levar eleitores a acreditar que o candidato presidencial da oposição é apoiado pela CIA. Aliás, membros e simpatizantes da FRELIMO têm rotulado líderes de oposição e da sociedade civil de estar ao serviço de governos estrangeiros, para derrubar o Governo da Frelimo. Este tipo de cartaz, em momentos sensíveis como o da campanha eleitoral, pode gerar até violência política.
Como parte de combate a fake news, o THE MOZAMBIQUE TIMES (MOZTIMES) criou um serviço de verificação de factos (MOZ FACT CHECK), que se dedica a investigar e a desmentir, com evidências, notícias falsas. Este cartaz foi o primeiro objecto da verificação da sua veracidade.
Oficialmente, o PODEMOS e Venâncio Mondlane não vieram a público desmentir a associação que se fez a sua camoanha com a CIA. Isso pode ser entendido como uma forma de evitar dar foco a um assunto marginal.
Ainda assim, no dia 21 de Setembro, circulou também pelas redes sociais, um vídeo do jornalista Arlindo Chissale, que é apoiante declarado de Venâmcio Mondlane e do PODEMOS, no qual comenta sobre o cartaz referido. Nesse vídeo, Chissane nega qualquer associação do PODEMOS com a CIA, no entanto, Chissale também apresenta informação não verídica, ao afirmar que os homens brancos que aparecem na foto “são uma equipa do National Geographics (sic), que faz grandes descobertas (…) e estão em Moçambique para acompanhar um grande fenómeno chamado VM7, para mostrar que, um dia, existiu um ser humano, algures pela África, que era amado desta maneira”. Este vídeo de Arlindo Chissale foi partilhado pelo próprio Venâncio Mondlane, através do WhatsApp.
Os factos
A história verdadeira sobre este cartaz é que os homens brancos que são rotulados como agentes da CIA, são, na verdade, um grupo de cineastas, com origem portuguesa e moçambicana, que produz filmes em Moçambique desde 2012, maioritariamente na província de Inhambane. O realizador Ico Costa já realizou em Moçambique três curtas-metragens, uma longa-metragem documental e uma longa-metragem de ficção, tendo os seus filmes sido exibidos internacionalmente e, inclusive, no festival Kugoma, em Maputo.
Neste momento, o grupo está a fazer um documentário por todo o país, onde diz que “pretende retratar o povo moçambicano numa ampla vertente sócio-cultural, bem como o património imaterial do país”.
Trata-se de uma rodagem para a qual o grupo está devidamente autorizado pelo Instituto Nacional das Indústrias Culturais e Criativas.
Diferentemente do que diz Chissale no seu vídeo, o grupo de cineastas não está a gravar um filme político. A fotografia que originou o boato mostra o grupo aquando de uma marcha do partido PODEMOS na cidade de Tete, mas a situação apenas aconteceu porque o grupo estava em Tete nesse momento, e, vendo um aglomerado de pessoas, quis acompanhar o momento. Os dois homens brancos que aparecem na foto são Ico Costa, realizador e Luís Duzenta, Produtor.
Dados do trabalho do Ico Costa podem ser encontrados no site TERRATREME, que tem uma das maiores presenças, entre as produtoras portuguesas, nos grandes festivais de todo o mundo. (MFC)