-Segundo a Autoridade Tributaria de Moçambique, a interrupção dos 21, 24 e 25 de Outubro causou uma perda de cerca de 70,4 milhões de dólares ao Estado moçambicano devido as manifestações convocadas pelo candidato Venâncio Mondlane apoiado pelo Podemos
Por Aurélio Muianga
Maputo (MOZTIMES) – A fonteira de Ressano Garcia, que liga Moçambique a Africa do Sul, voltou a funcionar, normalmente, ontem sexta-feira a partir das 18 horas, depois de três dias de bloqueio pelos manifestantes que apoiam o candidato presidencial Venâncio Mondlane que não reconhece os resultados eleitorais de 9 de Outubro, que dão vitória a Daniel Chapo com 70,67% e o partido Frelimo.
A reabertura da maior travessia rodoviária do país aconteceu mais cedo do se esperava devido às negociações entre as Forças de Defesa e Segurança (FDS) e os manifestantes, estes que queriam que fosse as 21 horas, início de tocar panelas, vuvuzelas e apitos, conforme indicou Venâncio Mondlane, que convocou greve geral de paralisação de actividades e concentração nas capitais provinciais, portos e corredores.
Em três dias de paralisação da fronteira de Ressano Garcia, por hipótese, o Estado moçambicano registou perda de 4,5 mil milhões de meticais, cerca de 70,4 milhões de dólares, um prejuízo cumulativo da paralisação de actividades nos dias 21, 24 e 25 de Outubro, segundo o porta-voz da Autoridade Tributária de Moçambique, Fernando Tinga. Disse a imprensa na altura que a receita diária é de cerca de 1,5 mil milhões de meticais.
O MOZTIMES testemunhou o início da livre circulação do trânsito naquela fronteira, que dista 90 km da capital Maputo e foi celebrada com buzinas de autocarros. Dezenas de viaturas e cerca de 200 camiões de transporte de mineiros, que aguardavam em fila atravessaram.
Temendo uma volta dos manifestantes, jovens entre 25 e 30 anos, motoristas e passageiros que cruzavam a fronteira, viram-se obrigados a levantar a mão e acenar com três dedos, número da posição que candidato Venâncio Mondlane ocupava no boletim de voto.
O chefe de turno em serviço no posto da Migração, que não se identificou por falta de autorização dos seus superiores hierárquicos, admitiu que o número de pessoas que atravessaram a fronteira reduziu para 150 a 200 pessoas por dia, contra mais de cinco mil num dia normal.
“A fronteira não chegou a fechar, porque para tal carece de um decreto. O que aconteceu foi a redução do movimento devido ao condicionamento imposto pelos manifestantes, que só permitem a passagem do carro quando transportasse urna”, disse, esclarecendo que as restantes viaturas passavam no momento em que os grevistas se retiravam à noite para descansar e até as primeiras horas do dia.
A uma pergunta sobre o baleamento de um manifestante supostamente por um colega seu no dia 5 de Outubro, no confronto que houve por volta das 17 horas, na anterior etapa das manifestações convocadas por Venâncio Mondlane, o agente migratório não confirma e disse ter se tratado de um pretexto dos manifestantes para atacar os funcionários da Migração, porque pretendiam retaliar por terem sido impedidos de frequentar o recinto da fronteira, onde ganhavam algum dinheiro ajudado os viajantes a carimbar passaportes e a carregar mercadorias retalhadas de pequenos importadores.
Disse que foram 40 funcionários que atravessaram para pedir socorro na África do Sul, onde foram acolhidos durante três dias. Os manifestantes vandalizaram o património do Estado e fizeram caça às bruxas nas suas residências, tendo-se apoderados dos bens pessoais e quebram viaturas.
“A nossa segurança está comprometida, porque eles continuam a nos procurar e sabem que vivemos nos mesmos bairros com eles. Alguns manifestantes foram ameaçar os donos das casas arrendadas pelos funcionários para lhes tirarem,” disse.
Aquando da visita dos responsáveis da Direcção Provincial de Migração de Maputo, para avaliar os danos os funcionários sugeriram a construção de uma cidadela para eles de modo a evitar a sua vulnerabilidade à população que clama pela oportunidade de sobrevivência enquanto assistem de perto a fonte de redacção de muita receita do Estado.
Desemprego e fraude eleitoral são principais motivos de manifestações em Ressano Garcia
Os jovens de Ressano Garcia apontam como principal motivo das suas manifestações o desemprego e suposto roubo de votos ao seu candidato presidencial Venâncio Mondlane pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) para favorecer Daniel Chapo.
Para Alberto Tembe esta manifestação é para cumprir o que disse o seu candidato Venâncio que foi a ocupação das fronteiras, portos e corredores de desenvolvimento.
“Nós estamos de acordo com o nosso presidente, Venâncio Mondlane, votado pelo povo moçambicano. Então, o povo não votou no Chapo, por isso que está a revoltar-se contra o roubo de votos”, acusou.
Jaime Pinga acrescentou que “as manifestações que estamos a fazer aqui em Ressano Garcia é porque o nosso candidato Venâncio Mondlane ganhou essas eleições, mas não querem lhe entregar o poder. Como, por exemplo, no Botswana o candidato da oposição que ganhou eleições já está a governar e não foi preciso um aranhão ou gota de sangue”, disse, indagando-se o porquê da Frelimo não entregar o poder.
Para Pinga, os jovens apoiam Venâncio Mondlane devido ao desemprego, e veêm nele como uma pessoa que vai trazer a solução.
“Aqui operam grandes empresas como a Giga Watt e a terminal do Cromo, vulgo Porto Seco, e outros, mas não contratam mão-de-obra local, mas sim pessoas vindas da cidade de Maputo, os filhos e familiares dos dirigentes da Frelimo, alegando que os nativos não têm qualificações profissionais”, disse.
Quanto ao terminal de Cromo, Pinga acrescentou que “ao contrário, essa empresa não traz benefícios à população de Ressano Garcia, apenas cria poluição que nos causa danos à saúde, mas mesmo assim engolimos”.
“Então, a Frelimo pensa que onde é que nós arranjamos dinheiro para mandar os nossos filhos para a escola. Aqui em Ressano já não queremos a Frelimo”, sentenciou Pinga, explicando que para sobreviver os jovens dependem de pequenos biscatos, de pedreiro, pesca ou atravessar a fronteira para África do Sul comprar alguns produtos para o comércio informal.
Com os nervos a flor da pele, o outro manifestante corroborou com Pinga, acrescentando que os jovens de Ressano Garcia já estão fartos de desemprego, e o Venâncio Mondlane só veio despoletar o problema que já muito lhes apoquentava.
“Vamos queimar essas instituições do Estado que em nada nos servem. Já batemos a residência do chefe do posto da Migração e a sede do partido Frelimo. Agora vamos queimar o posto administrativo de Ressano Garcia dentro de uma semana”, disse furioso o manifestante a apontar o edifício visado.
Os manifestantes olham para as Alfandegas e a Migração, como instituições públicas que colectam milhões de meticais por dia, mas o Governo não cria mínimas condições para melhorar a vida da população local.
Manifestantes repudiam a má actuação das Forças de Defesa e Segurança
O manifestante Alberto Tembe, condenou atitudes dos agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), que zelava pelo controlo da situação em Ressano Garcia por na madruga da sexta-feira ter disparado gás lacrimogéneo nas residências, numa altura em que já se encontravam pessoas a circular nas ruas.
Outro manifestante salientou que durante o dia, os agentes da UIR quiseram disparar contra os manifestantes, mas não aconteceu por falta do consentimento dos militares que terão avisado que caso o fizessem, eles iriam se retirar do local por não compactuar com tal atitude.
A má actuação dos agentes tem sido condenada pelo excesso de força durante as manifestações que acontecem por todo o país desde dia 21 de Outubro convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane e o PODEMOS, partido que apoia a sua candidatura. Porém, em Ressano Garcia, no último dia da quarta etapa das manifestações convocadas por Mondlane, os seus apoiantes reportaram não ter havido confronto com as FDS. (AM)