– Violência pós-eleitoral gera 12 mil desempregados e prejuízos sem precedentes
Por Aurélio Muianga e Ricardo Dias
Maputo (MOZTIMES) – A onda de violência pós-eleitoral em Moçambique, iniciada após a validação dos resultados das eleições gerais de 9 de Outubro, deixou um rasto de devastação económica. Milhares de pessoas ficaram desempregadas e registaram-se elevados danos no tecido empresarial. Um grupo de empresários anunciou que vai processar o Governo moçambicano por inação diante da vandalização e saque dos seus estabelecimentos durante as manifestações de 23 e 24 de Dezembro.
Muhamad Molana, proprietário do Khangee Supermarket Lda, Muhamad Saide, dono da Pastelaria Pérola, e Muhamad Jowe, farmacêutico, lideram o movimento de queixas. Eles acusam as forças de defesa e segurança de omissão e até cumplicidade.
“No nosso caso, vimos os militares no local. Alguns ajudaram os saqueadores a tirar os bens”, acusou Jowe, que contabiliza perdas em eletrodomésticos, móveis e equipamentos. Já Abdul Satar, gerente do Hotel Al-Khail Machava, relatou que o hotel foi completamente esvaziado pelos manifestantes: “Retiraram televisores, camas, colchões, sanitas e até torneiras.”
A destruição atingiu diversos sectores ao longo da Avenida das Indústrias, incluindo quatro agências bancárias que permanecem encerradas ou com operações limitadas. O gerente de um balcão do Standard Bank explicou que os danos obrigaram ao uso de vedação improvisada e limitaram os serviços a consultas de saldo e transferências para plataformas móveis.
CTA: 12 mil desempregados e escassez de produtos à vista
Segundo a Confederação das Associações de Moçambique (CTA) a violência comprometeu 40% do tecido industrial do país, fechou mais de 12 mil postos de trabalho e causou prejuízos que ultrapassam 24 mil milhões de meticais.
Onório Manuel, vice-presidente da CTA, alertou que caso o cenário persista, o desemprego pode atingir meio milhão de moçambicanos. “Além disso, estamos a prever escassez de produtos e aumento de preços, o que terá um impacto severo na vida dos moçambicanos”, destacou.
Indústria de combustíveis entre os mais afectados
O sector de combustíveis foi particularmente atingido, com mais de 100 postos vandalizados. Apesar de existirem reservas nacionais para três meses, a destruição e o bloqueio nas rotas de distribuição causaram escassez temporária em algumas regiões.
“Não há falta de combustível, mas os postos não são uma ilha e também foram impactados pelas manifestações violentas,” esclareceu Moisés Paulino, director nacional de hidrocarbonetos, acrescentando que a reposição já está em curso.
Um país em crise
As manifestações, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que contesta os resultados eleitorais, deixaram um rasto de destruição que inclui sede do partido Frelomo, fábricas e centros comerciais. Mondlane, refugiado em local incerto, denuncia perseguições e tentativa de assassinato.
Com milhares de famílias afectadas, empresários a contabilizar prejuízos bilionários e sectores estratégicos fragilizados, Moçambique enfrenta uma crise sem precedentes. A violência pós-eleitoral não só devastou a economia, mas também expôs as fragilidades institucionais do Estado, levantando dúvidas sobre a capacidade de resposta do Governo e o futuro do país. (AM/RD)