Por Rui Lamarques, Jornalista
Maputo (MOZTIMES) – A recente fuga de prisioneiros da BO lança mais uma sombra sobre o já frágil sistema de segurança de Moçambique. Em meio a uma escalada de violência, protestos e tensões políticas, o incidente suscita múltiplas perguntas e abre espaço para diversas hipóteses sobre o que realmente está acontecer dentro e fora dos muros das prisões.
Entre as teorias mais discutidas, algumas apontam para falhas operacionais ou o aproveitamento da instabilidade para ter mais e mais poder. Outras sugerem motivações que vão além da incompetência:
Um sistema sob pressão: A escassez de recursos, agravada pela crise económica e pela tensão política, pode ter deixado as cadeias sem condições básicas, como alimentação para os detidos. Nessa hipótese, a fuga seria menos uma acção criminosa e mais uma tentativa desesperada de sobrevivência, por parte de prisioneiros que se encontraram abandonados à própria sorte.
Libertação intencional? Alguns analistas especulam que as fugas podem ter sido facilitadas como uma estratégia para desviar o foco dos problemas políticos ou como um reflexo da incapacidade do sistema penitenciário de lidar com os riscos iminentes de revoltas internas.
Reacção em cadeia: A violência nas ruas e a polarização política podem ter tido um impacto directo no sistema prisional.
Em grupos de WhatsApp andam rumores de que grupos organizados podem ter coordenado ataques ou manipulado prisioneiros para criar mais instabilidade também começam a ganhar força.
Por último, fala-se da falência do Estado em gerenciar crises. A fuga também entende-se como um sintoma de uma crise mais profunda, que se traduz na incapacidade das instituições de lidar com múltiplos focos de pressão ao mesmo tempo. Entre protestos, insegurança alimentar, colapso nos serviços básicos e tensão política, o incidente é mais uma peça no quebra-cabeça de um país que parece à beira do colapso.
A coincidência de este episódio ocorrer num momento de transição política – com Nyusi ainda no poder, mas com Daniel Chapo já proclamado Presidente eleito – também levanta questões sobre liderança e responsabilidade. Até que ponto Nyusi, com seu mandato prestes a terminar, estará disposto a tomar medidas drásticas, como declarar um estado de emergência? E como Chapo, ainda sem posse, pode responder a uma crise que ameaça envolver o seu governo antes mesmo de começar?
Por fim, o que tudo isso revela sobre as prioridades do governo? Enquanto a violência se espalha e a segurança desmorona, é inevitável perguntar: quem está no controlo? E, mais importante, há um plano para devolver o controlo às instituições ou estamos a caminhar para uma crise ainda mais profunda?
O silêncio ou a falta de acções concretas de quem está no poder – e de quem o assumirá em breve – só aumenta a sensação de abandono num país que arde não apenas nas ruas, mas também dentro de suas grades agora abertas. (RL)