– Livre circulação poderá ser severamente afectada, incluindo nas principais fronteiras
– Protestos podem prejudicar mais de um milhão de alunos em exames escolares
Por Ricardo Dias
Maputo (MOZTIMES) – O candidato presidencial da oposição, Venâncio Mondlane, anunciou esta segunda-feira uma nova fase “mais difícil” de manifestações pós-eleitorais, que inclui a paralisação de voos, o encerramento de portagens e das sedes do partido no poder, Frelimo, por um período de sete dias, a iniciar na próxima quarta-feira.
“Queremos que tudo o que se move fique paralisado: carros, autocarros”, disse Mdonlane durante uma transmissão ao vivo na sua conta de Facebook, que foi acompanhada por milhares de pessoas. “As manifestações irão concentrar-se nos bairros e avenidas (…) queremos pedir a suspensão de voos para Moçambique porque o povo está a reorganizar o país”, afirmou.
As manifestações populares contra os resultados eleitorais decorrem desde o final de Outubro. Estas tiveram início após o assassinato de Elvino Dias e Paulo Guambe, advogado e mandatário eleitoral de Mondlane e do partido PODEMOS, respectivamente. Desde então, mais de 80 pessoas já perderam a vida, a maioria em baleados em confrontos com a Polícia.
A nova fase de protestos pode causar um caos generalizado em Moçambique, sobretudo nas principais cidades e vias principais, como os corredores portuários de Maputo, Beira e Nacala, bem como a Estrada Nacional Número 1.
Mondlane exige também o encerramento das sedes do partido Frelimo, da Comissão Nacional de Eleições (CNE), do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) e a suspensão das celebrações de Natal e do fim de ano.
Há receios de que os manifestantes possam destruir as sedes do partido Frelimo, como já ocorreu em manifestações anteriores. O candidato exigiu ainda que se suspenda o pagamento de portagens nas principais estradas do país, o que pode resultar em actos de vandalismo contra as infraestruturas.
A paralisação está prevista para ocorrer entre as 8h e as 16h, horário normal de expediente, prosseguindo à noite, das 21h às 22h, com protestos dentro das casas, usando apitos e outros instrumentos ruidosos.
Há preocupações de que a Polícia reaja com violência, incluindo o uso de balas reais contra os manifestantes, como vem acontecendo. O risco de mortes entre manifestantes e de destruição de postos policiais é elevado.
Entretanto, começaram esta segunda-feira os exames da 10.ª e 12.ª classes em todo o país, envolvendo cerca de 700 mil estudantes. Alunos da 4.ª e 6.ª classes terão exames de segunda chamada ainda esta semana. No total, mais de 1,5 milhão de alunos e 18 mil professores estão directamente envolvidos.
O anúncio da intensificação dos protestos pode afectar a realização dos exames, especialmente devido a relatos de alunos atingidos por balas durante a repressão violenta de manifestações anteriores. Apesar dos pedidos para a suspensão de aulas, o Governo manteve o calendário escolar.
A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), a maior organização empresarial do país, estima que sectores como logística, transportes e restauração foram os mais afectados pelos protestos, acumulando perdas na ordem de 25 mil milhões de meticais apenas nos primeiros dez dias das manifestações. (RD)