Por Paul Fauvet
Maputo (MOZ TIMES) – O líder da oposição em fuga, Venâncio Mondlane, prometeu uma semana de greves e manifestações, incluindo uma marcha rumo a Maputo, com o objectivo explícito de derrubar o governo.
Esta é a “terceira fase” dos protestos da oposição, em grande parte contra a fraude eleitoral. A primeira fase foi o que Mondlane chamou de “uma greve geral nacional” a 21 de Outubro. A segunda fase consistiu em dois dias de manifestações na quinta e sexta-feira passadas, que frequentemente degeneraram em confrontos entre a polícia e manifestantes.
Na noite de terça-feira, falando numa transmissão ao vivo pelo Facebook a partir de um local não revelado fora do país, Mondlane apresentou os seus planos para a terceira fase. “Vamos iniciar um novo ciclo”, disse ele.
Convocou uma paralisação das actividades económicas em todo o país a partir de quinta-feira, 31 de Outubro. Além disso, estão planeadas manifestações em frente aos escritórios das comissões distritais de eleições e nas sedes locais do partido no poder, a FRELIMO. Tudo isto deverá acontecer em simultâneo.
Mas a parte mais ambiciosa dos planos de Mondlane é uma marcha rumo a Maputo, com início a 31 de Outubro e culminando na ocupação completa da cidade a 7 de Novembro.
“Vamos ocupar toda a cidade de Maputo. Seremos quatro milhões de moçambicanos. Vamos todos marchar rumo a Maputo. Não haverá carros blindados nem gás lacrimogéneo que detenham o povo”, declarou.
Neste ponto, alguns factos e números curiosos podem ser úteis. Onde espera Mondlane encontrar quatro milhões de pessoas? De acordo com as projecções do censo populacional de 2017, vivem actualmente 735 mil pessoas com 18 anos ou mais na cidade de Maputo. A cidade adjacente de Matola forneceria mais um milhão de pessoas.
E quanto aos outros dois milhões? Estarão entre os que marcharão até a cidade vindos de outras províncias?
Uma marcha desta magnitude é logisticamente desafiante. As distâncias são enormes – Lichinga, no norte do país, está a 2.336 km de Maputo, enquanto Pemba, capital da província de Cabo Delgado, dista 1.666 km. De Quelimane a Maputo são 1.565 km, e de Beira a Maputo, 1.213 km.
Estas não são distâncias que podem ser percorridas a pé em sete dias! Presumivelmente, Mondlane espera que os manifestantes caminhem – ele não mencionou organizar uma frota de autocarros.
Os manifestantes também precisarão de comer e beber. A solução de Mondlane para esse problema foi pedir a empresários solidários que fornecessem alimentos. No entanto, as empresas desaprovam as greves e manifestações de Mondlane. A entidade que afirma representar o sector empresarial moçambicano, a CTA (Confederação das Associações Económicas), condenou publicamente as manifestações e encorajou os trabalhadores a não aderirem às greves. Portanto, poucas empresas estarão dispostas a fornecer comida gratuitamente aos manifestantes.
E onde espera Mondlane que os seus apoiantes durmam ao chegarem a Maputo? Nas ruas? Ele não especificou.
Mas estava confiante de que a ocupação das ruas de Maputo “ditará o fim do regime que tem humilhado, assassinado, oprimido e roubado o povo moçambicano”.
Ele recordou que, nos seus dias como movimento de libertação nacional, a Frelimo levou dez anos (1964-1974) a derrotar o regime colonial português. Mas Mondlane espera derrubar o governo actual em apenas uma semana.
“A Frelimo está a massacrar o povo”, afirmou. “Temos que consentir sacrifícios. Desta vez, a luta não é só de um partido, mas de todos os moçambicanos”.
Nas últimas duas semanas, a polícia demonstrou uma disposição brutal para atacar manifestantes desarmados com gás lacrimogéneo, balas de borracha e munições reais. Porque é que um confronto entre a polícia e a “marcha sobre Maputo” seria diferente?
Apesar disso, Mondlane mostrou-se optimista de que desta vez as forças de defesa e segurança não voltariam as armas contra os manifestantes. Ele também acredita que a base da Frelimo abandonará a sua liderança e se juntará aos manifestantes – embora, até agora, não haja sinais de deserções em massa da Frelimo.
Mondlane promete manter contacto com os seus apoiantes por meio de transmissões ao vivo no Facebook. Retornar a Moçambique seria arriscado, já que a polícia anunciou a abertura de processos criminais contra ele. (PF)