Por Noémia Mendes
Maputo (MOZTIMES) – O Comitê para a Protecção dos Jornalistas (CPJ), organização global dedicada à defesa da liberdade de imprensa, alertou para o agravamento da censura e da repressão contra jornalistas em Moçambique, durante o período pós-eleitoral. Em nota divulgada na quarta-feira, 5 de Fevereiro, a entidade denunciou os ataques sofridos por profissionais da imprensa na cobertura das manifestações pós-eleitorais e exige responsabilização.
“Blogger morto e editor desaparecido, numa altura em que a crise da liberdade de imprensa em Moçambique se agrava”, lê-se na nota.
Albino Sibia (Mano Shottas) foi morto pela polícia enquanto registava imagens de protestos violentos em Ressano Garcia. Arlindo Chissale desapareceu após publicar um vídeo em apoio ao ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane.
“Os jornalistas moçambicanos pagaram um preço alto por reportar as notícias em meio à crise pós-eleitoral”, afirmou Muthoki Mumo, coordenadora do Programa para a África do CPJ, citada na nota. “As autoridades devem garantir a responsabilização pelo assassinato de Albino Sibia (Mano Shottas) e o ataque contra Strip Pedrito, além de investigar de maneira credível o desaparecimento de Arlindo Chissale“, acrescentou.
A repressão contra a imprensa ocorre num contexto de violações sistemáticas dos direitos humanos. Mais de 300 pessoas foram mortas durante a crise pós-eleitoral das eleições gerais de 9 de Outubro de 2024. Em entrevista ao MOZTIMES, jornalistas moçambicanos denunciaram o crescente desrespeito à liberdade de imprensa e de expressão, alertando para um retrocesso democrático no país.
Gaspar Chirindza, jornalista do Grupo SOICO, agredido pela polícia enquanto documentava manifestações na Praça da OMM, em Maputo, no dia 21 de Outubro de 2024 relatou: “Naquela tarde, enquanto a polícia reprimia os manifestantes, fui atingido directamente por uma bomba de gás lacrimogêneo “. A polícia mirou directamente em mim”, acrescentou.
Gaspar Chirindza, que trabalhava na linha de frente dos protestos com a sua câmara visivelmente em mãos, acreditava estar seguro. No entanto, foi atingido no pé direito. Sofreu uma perfuração profunda e sangramento intenso. “Eles sabiam quem éramos”, afirmou. “A liberdade de imprensa é uma farsa. A mídia está controlada e muitos jornalistas, mesmo nas grandes emissoras, são forçados a seguir a linha do Governo”, acrescentou.
Luísa Nhatumbo, da agência de notícias Lusa, especializada na cobertura de conflitos e manifestações, também relatou casos de limitação ao seu trabalho. “Durante as manifestações de 21 de Outubro, percebi que a polícia estava prestes a disparar gás lacrimogêneo e rapidamente me afastei do local onde entrevistavam Venâncio Mondlane, ex candidato presidencial, posicionando-me atrás da força policial”, disse.
“Sempre que percebo que a polícia está prestes a reprimir os manifestantes, sei que devo me posicionar atrás da polícia. Mas este também não é um lugar seguro”, acrescentou.
O aumento da violência contra jornalistas em Moçambique tem gerado forte preocupação entre organizações internacionais e profissionais da comunicação. (NM)