– Manifestações populares contra resultados eleitorais paralisaram a capital, Maputo. A polícia respondeu com violência, ferindo dezenas de pessoas
Por Aurélio Muianga
MAPUTO (MOZ TIMES) – A polícia dispersou, esta segunda-feira, dezenas de manifestantes contra a fraude eleitoral que se aglomeravam em vários locais na cidade de Maputo. Usando granadas de gás lacrimogéneo, a Polícia antimotim disparou, também, contra o principal candidato presidencial da oposição, Venâncio Mondlane quando falava a jornalistas na rua, perto do local onde o seu advogado foi assassinado na madrugada do passado sábado.
Na semana passada, Mondlane convocou uma greve nacional para esta segunda-feira, 21 de Outubro, com o objetivo de “paralisar o país em protesto a alegada fraude eleitoral nas eleições de 9 de Outubro”. A Policia reagiu dizendo que não iria tolerar qualquer manifestação ilegal.
Antes de ser interrompido, Venâncio Mondlane, que falava à imprensa, disse que levou cerca de uma hora a tentar driblar os esquadrões da morte que cercavam a sua residência para o impedir de sair.
Mondlane aconselhou, ainda, as pessoas a regressarem para casa, pois o objectivo já tinha sido atingido e prometeu continuar com as manifestações. “O dia de hoje foi a primeira etapa. Nós vamos ter várias etapas na nossa reivindicação. Haverá uma altura em que vamos paralisar o país por três, quatro, cinco dias”, disse, antes de duas granadas de gás lacrimogéneo caírem sobre os jornalistas e assim, interromperem, a conferência.
Mondlane saiu do local a correr, acompanhado pelos seus apoiantes até entrar numa viatura que estava estacionada algumas centenas de metros do local onde falava a jornalistas.
Imagens partilhadas nas redes sociais mostraram pessoas a manifestarem-se em vários locais da capital, Maputo, e em alguns locais incendiavam as bandeiras da FRELIMO, o partido no poder. A Polícia ainda não apresentou o balanço das manifestações, mas há dezenas de feridos, segundo imagens partilhadas por organizações de defesa dos Direitos Humanos, entre as quais o Centro para a Democracia e Direitos Humanos (CDD).
Em outras cidades moçambicanas, também houve manifestações, mas a grande incidência foi na capital, Maputo que, logo pela manhã, estava deserta, quase que sem pessoas a circular. “Foi um grande sucesso o que aconteceu. Já se mostrou que é possível o povo paralisar o país”, afirmou o candidato da oposição aos jornalistas. “Nós conseguimos cumprir com o nosso papel. Assim ficou claro que o problema não está com o povo, mas sim com as forças de defesa e segurança”, acrescentou.
As eleições de 9 de Outubro foram consideradas fraudulentas por observadores locais e internacionais, incluindo pela missão de observação eleitoral da União Europeia que se referiu a casos de enchimento de urnas e de inflação do número de eleitores (AM).