– O líder da oposição convocou uma greve geral para “paralisar o País” na próxima segunda-feira, desafiando um aviso do Ministério Público para evitar incitação à violência
– A Confederação das Associações Económica diz que paralisação da actividade produtiva e empresarial, à escala nacional, resultaria em enormes prejuízos económicos
Por Neusa Chiunguete e Sheila Nhancale
Maputo (MOZ TIMES) – A Polícia não vai permitir a realização de qualquer tipo de manifestação popular organizada pela oposição para contestar os resultados das eleições de 9 de Outubro que dão a vitória ao candidato presidencial do partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).
Orlando Mudumane, o porta-voz nacional da Polícia, disse a jornalistas, esta sexta-feira, na capital, Maputo, que a Polícia e outras forças defesa e segurança irão “rechaçar qualquer manifestação ilegal” e apelou à colaboração de todos.
Venâncio Mondlane, o segundo candidato presidencial mais votado nas eleições de 9 de Outubro, não aceita os resultados preliminares das eleições divulgados pelos órgãos eleitorais e, para os contestar, convocou uma “greve geral nacional” para segunda-feira, dia 21 de Outubro, para a qual exigiu “a paralisação de todos os serviços públicos e privados”.
A convocação de “greve geral” é feita num contexto de tensão pós-eleitoral, após o anúncio de resultados de eleições em que observadores nacionais e internacionais relataram casos de fraude a favor da FRELIMO, o partido no poder desde a independência.
Mondlane tem o apoio massivo de jovens, sobretudo nas zonas urbanas, pelo que se teme que as manifestações possam ganhar contornos de violência, como aconteceu no ano passado. Usando a sua conta de Facebook, que tem centenas de milhares de seguidores, Mondlane apelou aos seus apoiantes a aderir à greve e aconselhou aos que não quiserem aderir a ficarem em casa.
A Polícia alertou que serão tomadas todas as medidas necessárias e justificáveis para “rechaçar quaisquer actos de vandalismo, violência e desordem públicas generalizadas, greves e manifestações ilegais no país, em conformidade com os princípios de legalidade e proporcionalidade”, disse Orlando André Mudumane.
O porta-voz da Polícia acrescentou que as forças de defesa e segurança “não permitirão qualquer perturbação da paz e da ordem pública”, e que irão assegurar “a livre circulação de pessoas e bens e o funcionamento normal das instituições públicas e privadas”.
Todavia, o risco de os serviços públicos e privados estar total ou parcialmente paralisados na próxima segunda-feira em Moçambique é grande, sobretudo nos principais centros urbanos. As empresas estão a aconselhar os seus colaboradores a não se deslocar ao trabalho na segunda-feira.
A maior associação empresarial do país, a Confederação das Associações Económicas emitiu um comunicado a condenar a ameaça da paralisação dos serviços públicos e privados, alertando para o impacto negativo que isso pode gerar para a economia.
“A CTA repudia e condena a convocação de uma manifestação à escala nacional, caracterizada pela paralisação de todos os serviços e actividades económicas e sócio-profissionais e considera que uma paralisação da actividade produtiva e empresarial à escala nacional, resultaria em enormes prejuízos económicos e sociais, de que a classe trabalhadora e suas famílias seriam as principais vítimas”, lê-se num comunicado enviado por e-mail.
A violência pós-eleitoral em Moçambique tem sido frequente e, no ano passado, pelo menos 9 pessoas foram assassinadas pela Polícia, em casos separados de manifestação contra os resultados das eleições locais. (NC/SN)