– As manifestações populares causaram, pelo menos, 10 mortos e mais de uma centena de feridos. O líder da oposição ameaça convocar manifestações ainda piores, na próxima segunda-feira
Por António Cumbane
Maputo (MOZ TIMES) – O candidato presidencial da oposição, Venâncio Mondlane, mostra-se disponível ao diálogo com o Governo, para travar as manifestações populares por si convocadas para contestar resultados das eleições de 9 de Outubro, que deram vitória a Frelimo e ao seu candidato presidencial, Daniel Chapo.
Mandlane falou, este sábado, ao público, através de uma transmissão live no Facebook, após dois dias de revoltas populares um pouco por todo o País, que causaram, pelo menos, 10 mortos, mais de uma centena de feridos e pelo menos 500 detidos, segundo dados do Centro de Integridade Pública, uma organização da sociedade civil, que tem observadores eleitorais em todo o País.
“Queremos diálogo, queremos discutir aquilo que o povo quer”, disse, indicando as condições que tem para ir para o dialogo. “Uma das coisas que nós temos que fazer, para ir a esse diálogo, ponto número 1, os votos, não se negociam, os votos contam-se. Onde é que estão os editais do Partido Frelimo? Onde é que estão os editais dos órgãos eleitorais? Temos que começar por aí, referiu.
A Missão de Observação de Eleitoral da União Europeia em Moçambique já recomendou aos órgãos eleitorais para publicarem os editais de apuramento parciais de votos, aquele que acontece nas mesas de votação imediatamente após o fim da votação.
O candidato presidencial líder da oposição disse que, se não houver diálogo, na segunda-feira vai anunciar outra etapa de manifestações populares, que serão piores do que as que já aconteceram até aqui.
“Na 3ª etapa da paralização se esperam quatro milhões moçambicanos para a greve e por isso não vale a pena fazer isso, vamos agora responder aos anseios do povo”. Referiu que o anseio do povo é a publicação dos editais de apuramento de votos nas mais de 25 mil mesas de votos.
Mondlane falou, ainda, da necessidade união de todos os partidos da oposição, na luta contra a fraude e da criação de governo de unidade nacional, uma ideia que foi inicialmente proposta pelos Bispos Católicos de Moçambique, na passada terça-feira.
Ameaça de destruir infraestruturas de telefonia móvel
As empresas de telefonia móvel bloquearam acesso à internet na tarde da sexta-feira até sábado, uma acação que o Media Institute for Southern Africa em Moçambique (MISA Moçambique) classificou como “intencional”. O líder da oposição disse que o desligamento da internet móvel, que é usada pela grande maioria dos moçambicanos, foi em obediência às ordens do Governo e ameaçou mandar atingir as infraestrturas das empresas de telefonia móvel, caso volte a desligar os dados de internet.
“Se tornarem a obedecer a esse tipo de ordens, esta manifestação vai passar também a reflectir-se, exactamente, na vossa infraestrutura digital ao nível do País. Se vocês violam os direitos do povo, o povo vai violar também os vossos direitos. O povo vai violar o vosso próprio património. “Não obriguem o povo a recorrer a vias radicais”, afirmou
“Se querem uma relação de respeito mútuo, querem uma relação civilizada, então respeitem o povo, para o povo também vos respeitar. Se não respeitarem o povo, o povo também não é obrigado a vos respeitar”, acrescentou.
Nem as empresas de telefonia móvel e nem o regulador do sector de telecomunicações já vieram explicar a causa do desligamento de internet no país do sudeste africano. (AC)