– Um posto policial e sete sedes da Frelimo foram destruídos e incendiados na cidade de Pemba
– A Polícia fala de plano subversivo que inclui libertação de reclusos e roubo de armamento
Por António Cumbane e Tomásia Job
Maputo (MOZTIMES) – A cidade de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, está atingida por protestos populares violentos, em contestação aos resultados das eleições de Outubro passado. Na quinta-feira, os manifestantes destruíram o posto de controlo da Polícia situado no bairro de Muxara, ao longo da Estrada Nacional Número Um (N1), na entrada da cidade, permitindo a entrada e saída de pessoas e carros sem verificação.
Nesta sexta-feira, a violência escalou, e pelo menos sete edifícios sede do partido Frelimo foram destruídos em igual número de bairros periféricos. Uma estátua do Veterano da Luta de Libertação Nacional, Alberto Chipande, foi destruída e arrastada pelas ruas da cidade.
“Os manifestantes estão a destruir as sedes do partido Frelimo. Posso confirmar que destruíram e queimaram as sedes nos bairros de Natite, Gingone, Josina Machel, Metula, Cariacó, Mahate e Paquitequete”, disse ao MOZTIMES um residente de Pemba sob anonimato.
Para tomar controlo do posto policial junto à Estrada Nacional Número Um, mais de 300 pessoas reuniram-se, superando em número os agentes da Polícia.
“Foi por volta das 17h00 de quinta-feira, um grupo de aproximadamente 300 manifestantes se aproximou ao posto policial, munido de materiais contundentes e gasolina”, relatou Macário Chissale, correspondente do Cabo Delgado.
Ainda na quinta-feira, os manifestantes derrubaram uma estátua de Alberto Chipande, localizada próximo ao Instituto de Formação de Professores. Nesta sexta-feira, derrubaram uma segunda estátua, também de Chipande, nas imediações do Aeroporto Internacional de Pemba.
“A cidade está em pânico neste momento, desde a tarde de quinta-feira”, descreveu Chissale.
Até agora, não há mortes confirmadas, mas a tensão domina a capital provincial de Cabo Delgado, e há receio de que a situação possa beneficiar os insurgentes jihadistas que atuam mais ao norte da província, mas têm células adormecidas em Pemba, segundo relatórios de segurança.
A remoção do posto de controlo de Muxara permite a livre circulação de e para Pemba, o que aumenta o risco de entrada de insurgentes na cidade. Cabo Delgado sofre ataques de insurgentes jihadistas desde 2017, que já causaram mais de 5 mil mortos e mais de um milhão de deslocados. A cidade de Pemba tornou-se o destino principal para a maioria dos deslocados internos do conflito.
Plano subversivo
O porta-voz do Comando Geral da Polícia, Orlando Mudumane, afirmou nesta sexta-feira que existe um plano subversivo para assaltar prisões, libertar prisioneiros e roubar armas. Atribuiu este plano a membros do partido PODEMOS, liderado por Venâncio Mondlane, o candidato presidencial que reivindica ter ganho as eleições.
“As forças de defesa e segurança de Moçambique possuem informações credíveis que revelam que, ao longo do fim de semana, os membros e simpatizantes do partido PODEMOS pretendem atacar e vandalizar objectos estratégicos e vitais do Estado, bem como subunidades e estabelecimentos penitenciários, com o objetivo de se apoderar de material bélico e libertar reclusos para engrossar o grupo que pratica ações subversivas”, disse Mudumane, falando em Maputo. Garantiu ainda que as forças de defesa e segurança irão repelir os ataques.
A Polícia tem-se mostrado incapaz de conter os protestos violentos, especialmente nos bairros periféricos e nos distritos, onde há escassez de agentes da polícia antimotim e meios de transporte.
Como exemplo, na última quarta-feira, um grupo de pessoas destruiu e incendiou um edifício do tribunal no distrito de Morrumbala, na Zambézia, libertando cerca de 100 prisioneiros. A Polícia não conseguiu conter o ataque ao tribunal.
A Associação Moçambicana de Juízes reagiu em comunicado esta sexta-feira, apelando aos manifestantes para não atacarem os tribunais, que são fundamentais incluindo para garantir a proteção das pessoas detidas durante as manifestações.
Esta fase mais dura de manifestações deverá continuar até à próxima quarta-feira, conforme anunciado pelo líder da oposição, Venâncio Mondlane (JC/TJ).