Polícia Nega ter Disparado Contra Caravana de Venâncio Mondlane

- Mondlane está bem de saúde, mas em local incerto, diz seu assessor

Por Noémia Mendes

Maputo (MOZTIMES) – A Polícia da República de Moçambique (PRM) negou, nesta quinta-feira, que a Unidade de Intervenção Rápida (UIR) tenha disparado contra a caravana do ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, na tarde de quarta-feira, ao longo da Avenida Julius Nyerere, na zona de Hulene Expresso, Cidade de Maputo.

Uma caravana de Venâncio Mondlane, com milhares de pessoas, foi interrompida por disparos de agentes da UIR, numa cena que foi transmitida em directo no Facebook do próprio Mondlane, mostrando pessoas ensanguentadas, vítimas da acção policial.

"Não houve disparos, apenas dispersão de massas", afirmou, em entrevista ao MOZTIMES, o porta-voz da Polícia na Cidade de Maputo, Leonel Muchina, rejeitando também a existência de feridos.

Vídeos amplamente divulgados nas redes sociais e relatos de testemunhas descrevem um cenário de repressão violenta, com disparos contra os participantes da caravana.

“A polícia, do nada, começou a disparar. Não era apenas gás lacrimogéneo, mas também balas letais”, relatou ao MOZTIMES Romeu Silva, jornalista da DW que cobria o evento.

Segundo a Plataforma Decide, organização não-governamental que monitoriza violência pós-eleitoral, pelo menos 16 pessoas ficaram feridas atingidas pelas balas disparadas pela Polícia.

A caravana de Mondlane ocorreu no mesmo dia em que se assinava um acordo entre o governo e partidos da oposição para a resolução da crise pós-eleitoral . Mondlane foi excluído desse evento, o que gerou revolta entre os seus apoiantes.

Desde Outubro de 2024, a repressão pós-eleitoral resultou na morte de mais de 300 pessoas em Moçambique, segundo dados divulgados pela Plataforma Decide. O governo reconhece apenas 80 mortes.

A repressão violenta contra a caravana de Mondlane gerou críticas a nível nacional e internacional. O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal publicou um comunicado classificando o ataque como "inaceitável" e apelando ao respeito pelos direitos fundamentais.

https://twitter.com/nestrangeiro_pt/status/1897330103476195793

O jornalista Lázaro Mabunda considera que a acção policial reflecte a falta de compromisso do governo com uma solução pacífica para a crise política.

"Este episódio demonstra que não há nenhuma vontade real de resolver a crise. A violência tem sido usada como estratégia de controlo. Como é possível buscar pacificação sem incluir quem tem apoio popular?", questionou Mabunda em entrevista ao MOZTIMES. “O governo dialoga com figuras irrelevantes e ignora a verdadeira oposição", afirmou.

Após os disparos da Polícia contra a sua caravana, Mondlane ficou incontactável, gerando preocupações sobre a sua localização. No entanto, segundo Abdul Nariz, seu assessor de imprensa, o ex-candidato foi localizado, nesta quinta-feira, em segurança.

"Houve um pré-contacto e ele está bem de saúde", garantiu Nariz, em entrevista ao MOZTIMES, sem revelar a localização actual de Venâncio Mondlane.

Este não foi o primeiro episódio de ataque contra Mondlane pela UIR. Em Outubro de 2024, a UIR disparou gás lacrimogéneo contra o então candidato presidencial durante uma conferência de imprensa em Maputo. (NM)

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