- Filha de Samora também abordou a morte do pai e afirmou que seu pai foi assassinado por forças internas e externas
Por Noémia Mendes
Maputo (MOZTIMES) – Josina Machel, filha do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Moisés Machel, declarou, em entrevista ao podcast MOZCAST, transmitido na noite desta quinta-feira, que o país atravessa uma crise preocupante, distante do que o seu pai sonhou para Moçambique.
“Samora dedicou a sua vida a servir o povo, e isso não significa apenas os representantes do governo, mas sim todos nós, como cidadãos, devemos contribuir para melhorar, pelo menos, os serviços essenciais”, afirmou durante a entrevista, cujo tema era “Violência Doméstica: O Relato de uma Sobrevivente”.
Josina falou também dos protestos pós-eleitorais. Manifestou apoio às manifestações, condenou a repressão policial e criticou os casos de violência protagonizados por alguns manifestantes.
“O clima no país é de negativismo e revolta. O povo carrega há muito tempo um fardo pesado e, agora, está a despejá-lo nas ruas”, referiu. “As exigências do nosso povo são legítimas e, infelizmente, a forma como as manifestações estão a acontecer nem sempre é a melhor”, acrescentou.
“É necessário sair à rua, exigir que os nossos direitos sejam cumpridos e que os serviços prestados sejam cada vez melhores. Não podemos continuar a aceitar a indignidade que se tornou quase normalizada”, afirmou.
Assassinato de Samora Machel
Josina também abordou um dos maiores mistérios da história de Moçambique, o assassinato do Presidente Samora Machel. Disse acreditar que o falecimento do seu pai envolveu figuras internas do regime, para além de forças externas.
“Eu acredito que o meu pai foi assassinado por forças internas e externas. O contexto internacional da época estava repleto de grandes mudanças, e Samora adoptava uma postura corajosa. Algumas forças não estavam interessadas na sua posição e queriam vê-lo desaparecer”, afirmou.
Josina deixou transparecer que o acidente aéreo que matou o antigo Presidente em Mbuzini, África do Sul, foi planeado e também executado a partir de Maputo.
Referiu-se ao facto de que as luzes da pista de aterragem do Aeroporto de Maputo, onde o avião que transportava Samora e a sua delegação deveria aterrar, estavam desligadas, supostamente para desviar o curso da aeronave.
“Sabemos que as luzes do aeroporto foram apagadas. Alguém, certamente, deu a ordem para isso acontecer. E as pessoas que participaram nesse acto ainda estão vivas. Elas deveriam aparecer e contar a verdade”, declarou, visivelmente consternada.
Durante grande parte da entrevista, conduzida pela jornalista Slide Mutemba, Josina abordou a violência baseada no género em Moçambique, da qual foi vítima de um antigo parceiro. Disse que a brutalidade que sofreu demonstra que a violência baseada no género não escolhe classe social, ou seja, não é apenas um problema de mulheres desfavorecidas.
A entrevista completa pode ser acompanhada no canal de YouTube do MOZTIMES. (NM)