– O uso crescente de serviços financeiros por mulheres está a moldar uma economia mais inclusiva
– Essa transformação contribui para a igualdade de género, reduz a dependência financeira das mulheres e ajuda a prevenir a Violência Baseada no Gênero.
Por: Aurélio Muianga
Maputo (MOZTIMES) – Em 2023, as mulheres moçambicanas alcançaram uma marca histórica no acesso ao crédito bancário. Entre os 97,9 biliões de meticais concedidos em empréstimos a clientes particulares, 34% foram destinados a mulheres – um aumento significativo em comparação com os 27% de 2022. Essa mudança reflecte um crescimento de 7 pontos percentuais (pp) no crédito feminino e uma redução de 9 pp no crédito masculino, no mesmo período.
Os dados, extraídos do Relatório de Inclusão Financeira de 2023, do Banco de Moçambique, revelam, ainda, que as mulheres aumentaram a sua participação em depósitos bancários. Elas foram responsáveis por 32% dos depósitos, em 2023, marcando um crescimento de 1 pp em relação a 2022, enquanto os homens registaram uma leve queda no mesmo indicador.
A história por trás dos números
Ana Joaquim, empreendedora baseada em Maputo, é um exemplo de como o acesso ao crédito pode transformar vidas. Em 2022, Ana abriu uma pequena loja de produtos agrícolas, com um empréstimo de um microbanco. Hoje, graças a um financiamento adicional obtido em 2023, ela ampliou o seu negócio, contratou duas funcionárias e dobrou a sua renda. “Esse crédito mudou a minha vida e a da minha família. Agora, posso investir na educação dos meus filhos e melhorar a nossa qualidade de vida”, conta Ana.
Histórias como a de Ana ilustram os benefícios de uma economia onde mulheres têm maior acesso a serviços financeiros. Economistas apontam que o maior uso de serviços bancários pelas mulheres não só promove a igualdade de género, mas, também, tem impactos sociais profundos, como a redução da violência baseada no género.
Cada vez mais mulheres procuram crédito
Expansão das Instituições de Crédito: Actualmente, Moçambique conta com 38 instituições financeiras, incluindo microbancos, que, geralmente, têm como foco apoiar mulheres e pequenos negócios.
Interoperabilidade financeira: A integração de sistemas financeiros, como a plataforma SIMO, facilitou transações entre bancos e carteiras móveis, ampliando o acesso em regiões remotas.
Educação financeira: Campanhas e programas educacionais têm ajudado mulheres a entender e aceder a produtos financeiros formais.
Parcerias com Fintechs: Produtos de microcrédito, desenvolvidos em colaboração com Fintechs, têm sido essenciais para atender às necessidades de mulheres empreendedoras.
Esses factores foram fundamentais para um salto no crédito feminino e reflectem um esforço para integrar mulheres na economia formal, já que 80% das mulheres ainda actuam no sector informal.
Impactos económicos e sociais
Kátia Agostinho destaca que o acesso ao crédito permite que mulheres invistam em sectores-chave, como educação, saúde e habitação, beneficiando não, apenas, as suas famílias, mas. Também, as suas comunidades. Além disso, o crescimento de negócios liderados por mulheres é crucial para reduzir desigualdades históricas no acesso a serviços financeiros.
“A independência económica das mulheres transforma dinâmicas familiares, promovendo parcerias mais equilibradas e reduzindo a dependência financeira”, afirma Kátia. Estudos indicam que mulheres economicamente independentes tendem a investir mais nos seus filhos, gerando impactos de longo prazo para o desenvolvimento social.
Outro impacto significativo é a redução da violência baseada no género. Dados mostram que a dependência financeira é uma das principais causas da violência doméstica em Moçambique. Ao oferecer alternativas económicas, o crédito às mulheres pode reduzir esses riscos, fortalecendo sua protecção e autonomia.
O aumento do crédito concedido às mulheres em 2023 não é, apenas, um número; é um sinal de mudança estrutural em Moçambique. Com maior inclusão financeira, as mulheres estão a tornar-se protagonistas das suas próprias histórias e contribuintes indispensáveis para o crescimento económico do País. (AM)