- Empresários negam financiamento sem restabelecimento da segurança
Por Aurélio Muianga
Maputo (MOZTIMES) – O governo de Moçambique anunciou recentemente três linhas de financiamento, que somam mais de 250 milhões de dólares norte-americanos, para apoiar empresas afectadas pela crise pós-eleitoral. No entanto, empresários e investidores alertam que, sem garantias de segurança pública, o impacto desses recursos será limitado. A principal preocupação do sector privado não se resume ao acesso a fundos, mas à criação de um ambiente seguro e estável para a retoma das actividades económicas.
"Como investidor, preciso de condições seguras para operar. O primeiro passo é pacificar o país, e isso deve ser feito através de um diálogo entre as partes em conflito", afirmou, em entrevista, o renomado empresário moçambicano Kokobad Patel, com investimentos em vários sectores, incluindo a banca.
Além da insegurança, a burocracia excessiva e a ineficiência do sector público são apontadas como barreiras à recuperação económica. Patel criticou as instituições públicas, classificando-as como "burocráticas e complexas", e defendeu a necessidade de desburocratização dos processos administrativos.
Arnaldo Ribeiro, representante da Bananamoz, foi mais específico ao afirmar que "nenhum empresário vai recorrer aos fundos sem segurança".
Ribeiro sugeriu ainda a revisão da Lei do Trabalho, que, segundo ele, dificulta contratações e compromete o bom funcionamento das operações empresariais.
Outro desafio apontado pelos empresários é a política fiscal, caracterizada por impostos elevados e um sistema tributário complexo, factores que reduzem a competitividade das empresas e dificultam novos investimentos.
As linhas de financiamento anunciadas pelo governo incluem 150 milhões de dólares norte-americanos da Associação Moçambicana dos Bancos (AMB), parte dos 100 milhões de dólares do fundo catalítico do Banco Mundial, além de créditos do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), disponibilizados através do Banco Nacional de Investimento (BNI), com valores ainda a serem definidos.
Os dados foram divulgados durante um encontro organizado para esclarecer como as empresas afectadas pela crise pós-eleitoral podem aceder ao financiamento. Agostino Vuma, presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), explicou que os fundos disponibilizados pelos bancos comerciais terão uma duração de 12 meses para apoio à tesouraria e cinco anos para investimento.
De acordo com a CTA, cerca de mil empresas moçambicanas foram afectadas pelas manifestações pós-eleitorais desde Outubro de 2024, resultando em perdas económicas superiores a 480 milhões de euros e impactando directamente 17 mil trabalhadores. (AM)