- Um veículo de transporte civil accionou um engenho explosivo em Mbau, no distrito de Mocímboa da Praia, indicando um aumento de uso de explosivos contra alvos civis
- Especialistas alertam que forças governamentais podem estar a fornecer, involuntariamente, explosivos aos insurgentes
Por Stélvio Martins e Macário Severiano
Maputo (MOZTIMES) – Na terça-feira (29 de Outubro), uma viatura de marca Toyota Land Cruiser, transportando passageiros e carga, accionou um dispositivo explosivo no posto administrativo de Mbau, em Mocímboa da Praia, resultando na morte de pelo menos uma pessoa e em vários feridos.
O incidente ocorreu por volta das 10h, numa área de floresta densa. Após a detonação, insurgentes escondidos nas proximidades começaram a disparar contra os sobreviventes. Alguns conseguiram fugir mas outros estão desaparecidos. Suspeita-se que tenham sido sequestrados. O motorista do veículo morreu no local, informou um residente.
Mais tarde, na terça-feira, o veículo foi encontrado imobilizado e com o corpo do motorista ainda dentro e com sinais de queimaduras. Toda a carga foi saqueada. O posto administrativo de Mbau, no sul de Mocímboa da Praia, é habitado principalmente por pessoas de etnia maconde e tem sido alvo de vários ataques de insurgentes. As forças ruandesas estacionadas em Cabo Delgado mantêm uma posição permanente em Mbau mas o ataque ocorreu um pouco distante da sede do posto administrativo, onde os militares estão baseads.
Aumento no Uso de IEDs Contra Civis
O incidente de terça-feira é o terceiro ataque com explosivos a veículos em um período de dois meses nas estradas dos distritos de Mocímboa da Praia e Muidumbe. Um dos casos recentes ocorreu em Xitaxi, no distrito de Muidumbe, e o outro no mesmo troço da estrada nacional número 380, entre as aldeias de Chinda e Mbau.
O ataque em Mbau ainda não foi reivindicado pelo Estado Islâmico. No entanto, apenas neste ano, o canal oficial de propaganda do EI, a Amaq Agency, relatou vários ataques com IEDs (dispositivos explosivos improvisados), com alguns incidentes ocorrendo em Muidumbe (três ataques), Mocímboa da Praia (dois) e Macomia (um ataque). Esses incidentes refletem a crescente sofisticação e alcance operacional dos insurgentes.
Especialistas em segurança alertam que o uso crescente de IEDs pode aumentar o poder letal dos insurgentes e tornar o conflito mais complexo. Willem Els, do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) e ex-membro da unidade antibombas da Polícia da África do Sul, explicou que o uso de IEDs por grupos insurgentes é uma táctica tradicional para obstruir operações das forças militares governamentais, referindo-se a zonas de conflito como o Iraque e a Síria, onde os IEDs causaram grandes baixas.
Els adverte que embora os IEDs em Cabo Delgado sejam relativamente rudimentares, a possibilidade de dispositivos mais avançados representa um sério risco à estabilidade regional. Observa que os insurgentes estão a mudar o alvo de comboios militares para veículos civis e comerciais, o que pode levar a escassez de alimentos e restrições de movimentos.
“O uso de IEDs adiciona uma nova dimensão ao conflito”, disse Els, acrescentando que “o momento em que explosivos também estão envolvidos cria um novo nível de ameaça”.
Els destacou, também, que os insurgentes estão agora deliberadamente a atacar civis com IEDs. Ele afirma que a curto prazo a ameaça pode persistir devido à incapacidade das forças de segurança do Governo de combatê-la. “A capacidade das forças moçambicanas é bastante limitada, se é que existe. Portanto, elas dependerão principalmente das forças ruandesas para assisti-las”, acrescentou.
Els sugeriu que o Governo precisa “conter o contrabando de explosivos para impedir que os insurgentes os obtenham”. Ele argumenta ainda que o Exército moçambicano é a principal fonte de explosivos para os insurgentes. “Sempre que há um ataque contra eles, eles simplesmente abandonam as suas armas e fogem, deixando para trás bombas de morteiro e granadas RPG-7, entre outros. Portanto, eles são os principais fornecedores dos explosivos que estão sendo usados contra eles”, disse.
A nossa fonte recomenda que as forças moçambicanas não carreguem explosivos ou munições explosivas, a menos que seja necessário. “Por que carregar uma granada propelida por foguete RPG-7, por exemplo, se o inimigo não possui veículos blindados?”, questionou ele.
Emilia Columbo, associada sénior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), destaca que o aumento do uso de IEDs representa uma evolução significativa nas capacidades dos insurgentes. Ela afirmou em uma entrevista: “Essa táctica permite que os insurgentes evitem confrontos diretos com as forças de segurança enquanto exercem controle sobre estradas importantes e minam a autoridade do Estado”. Columbo conclui que à medida que o exército moçambicano enfrenta dificuldades para combater os IEDs, as respostas imediatas incluem aprimorar a inteligência, prevenir o contrabando de explosivos e usar veículos blindados para proteção contra ataques com IEDs. (SM/MS)