Período abrangido: 1 a 8 de Dezembro de 2024
Resumo
A situação de segurança na primeira semana de Dezembro foi marcada pela prevalência da ameaça terrorista nos distritos centrais e do sul de Cabo Delgado, acompanhada por uma escalada de atividades.
As ações terroristas variaram entre ataques às Forças de Defesa e Segurança, saques de bens da população e movimentações sem criar danos diretos. Destaca-se o confronto no distrito de Meluco, evidenciando uma expansão dos ataques para regiões centrais e sul da província, sugerindo a existência de bases transitórias ou avançadas.
Neste período, houve redução das reivindicações do Estado Islâmico dos ataques em Cabo Delgado, que se deveu à repressão dos canais de comunicação do grupo no aplicativo Telegram (o mais usado para a propaganda do EI), dificultando a propagação de suas mensagens.
O tema da semana aborda como a crise pós-eleitoral redirecionou o foco das forças de defesa e segurança — incluindo militares, polícia e serviços de inteligência — para lidar com a crise pós-eleitoral e isso está a beneficiar os insurgentes no norte de Moçambique.
Principais incidentes
02 de Dezembro de 2024
- Local: Posto Administrativo de Mieze, Distrito de Metuge
- Incidente: Terroristas (10-15 indivíduos) foram avistados por populares, deslocando-se para o sul do distrito sem realizar ações hostis.
02 de Dezembro de 2024
- Local: Distrito de Mocímboa da Praia
- Incidente: Ataque contra pescadores no Lago Nguri (distrito de Muidumbe), com saque de pescado e bens da população. Não houve vítimas humanas.
03 de Dezembro de 2024
- Local: Aldeia Unidade, Distrito de Mocímboa da Praia
- Incidente: Terroristas saquearam bens da população nas regiões próximas.
04 de Dezembro de 2024
- Local: Chibanga, Distrito de Mocímboa da Praia
- Incidente: Ataque terrorista com saque de bens e assassinato de dois cidadãos.
07 de Dezembro de 2024
- Local: Aldeia Muaguide, Distrito de Meluco
- Incidente: Terroristas atacaram com metralhadoras, ferindo um agente de polícia. O posto policial e a residência de um líder local foram incendiados, com saque de bens. Ataques adicionais são esperados na região.
Avaliação
Os insurgentes têm demonstrado uma estratégia de expansão das suas actividades para distritos centrais e do sul de Cabo Delgado, como Meluco, Metuge e Chiúre. Esta movimentação indica um esforço deliberado para recuperar territórios que anteriormente estavam sob o seu controlo, reforçando a percepção de que continuam a dispor de uma capacidade operacional significativa.
A intensificação destas incursões ocorre num momento estratégico. A crise pós-eleitoral, que tem ocupado a atenção e os recursos das Forças de Defesa e Segurança, criou lacunas no teatro operacional, permitindo aos insurgentes explorar as fragilidades no sistema de defesa moçambicano. Esta fase coincide ainda com o início da época chuvosa, um período em que os insurgentes tradicionalmente procuram recolher mantimentos e reforçar os seus esconderijos, assegurando a sua sobrevivência durante a estação mais difícil para a sua mobilidade e operações.
Os saques de bens alimentares das populações locais, registados em várias localidades, têm servido para garantir o abastecimento logístico do grupo, essencial para a sua sobrevivência e continuidade das operações. Esta combinação de acções ofensivas e estratégias logísticas evidencia um planeamento calculado por parte dos insurgentes, que procuram sustentar as suas actividades enquanto pressionam as forças governamentais.
Estas dinâmicas sublinham a necessidade urgente de estratégias integradas e coordenadas para enfrentar a ameaça terrorista. Sem uma resposta robusta e alinhada, tanto ao nível militar como civil, os insurgentes poderão consolidar as suas posições e intensificar a frequência e letalidade dos seus ataques na região.
Tema da Semana: Crise Pós-Eleitoral Beneficia os Insurgentes
Desde as eleições presidenciais e legislativas de 9 de Outubro, o Governo de Moçambique redirecionou o foco das forças de defesa e segurança — incluindo militares, polícia e serviços de inteligência — para lidar com a crise pós-eleitoral. A convocação de uma marcha sobre Maputo pelo candidato presidencial da oposição, venâncio Mondlane, agendada para 7 de Novembro, levou o Governo a acreditar que havia uma tentativa em curso de destituir tomar o poder pela força. Em resposta, foram mobilizados homens e equipamentos destacados em Cabo Delgado para Maputo, visando proteger a capital contra manifestações populares.
Para além de Maputo, as forças de segurança reforçaram a protecção de infraestruturas críticas do Estado nas capitais provinciais.
As manifestações, que já duram cerca de seis semanas e apresentam sinais de intensificação da violência, têm colocado as forças governamentais numa situação de incapacidade real para conter a revolta popular. Esta fragilidade é visível na facilidade com que manifestantes têm invadido infraestruturas económicas críticas, como a Central Térmica de Ressano Garcia — responsável pelo fornecimento de energia eléctrica para Maputo, outras províncias do Sul e exportações — e o acampamento da mineradora Kenmare, sem oposição efectiva das forças de segurança.
Simultaneamente, registou-se uma expansão consolidada dos ataques insurgentes em Cabo Delgado durante este período. Conforme demonstrado neste relatório, os insurgentes têm realizado acções tanto no norte, em Mocímboa da Praia, como nos distritos centrais e do sul, como Metuge e Meluco, aproveitando as fragilidades das Forças de Defesa e Segurança.
As forças ruandesas, destacadas para proteger projectos estratégicos de gás e mineração, não têm a capacidade de ocupação territorial. O seu papel limita-se a operações especiais de assalto e limpeza, além de protecção estática em posições estratégicas.
Caso a crise pós-eleitoral persista, a capacidade de resposta das Forças de Defesa e Segurança será ainda mais enfraquecida, favorecendo os insurgentes e permitindo a continuação e expansão das suas actividades em Cabo Delgado e eventualmente para Nampula.
Conclusão
Os grupos terroristas em Cabo Delgado demonstraram resiliência às operações conjuntas das FADM e RDF, sustentada pelo domínio do terreno e pelas fragilidades das forças governamentais. Esta situação é agravada pela crise política nacional, que desviou recursos cruciais para conter manifestações populares.
A resposta das Forças de Defesa e Segurança continua limitada pela falta de cobertura adequada no teatro operacional e pela incapacidade de responder de forma simultânea às exigências da segurança interna e da luta contra o terrorismo.
Para evitar que os grupos terroristas recuperem territórios já libertados, será essencial combinar ações militares e não militares mais eficazes. Além disso, a estabilização política e a redução das tensões pós-eleitorais são condições fundamentais para reforçar a segurança no norte de Moçambique. (LR/BN)