- Houve aumento de sinistros causados pelas manifestações e sem cobertura de seguros convencionais
- Seguradoras alarmadas com o crescimento do risco político em Moçambique
Por Aurélio Muianga
Maputo (MOZTIMES) – Cerca de 40% dos clientes com seguro automóvel obrigatório deixaram de pagar as prestações no último trimestre de 2024, devido à instabilidade política e económica resultante da crise pós-eleitoral, disse o presidente da Associação Moçambicana de Seguradoras (AMS), Manuel Gamito, em entrevista.
Segundo Gamito, a crise afectou a liquidez das famílias e das empresas, levando-as a priorizar outras despesas essenciais em detrimento dos pagamentos de seguros. “Dados preliminares apontam que a falta de liquidez das famílias e instituições resultou numa queda de 40% no pagamento do seguro obrigatório de automóvel. O pagamento de seguros passou a ser secundário, com famílias e empresas a priorizarem outras necessidades urgentes”, afirmou Gamito.
O sector de seguros também registou um aumento na sinistralidade durante os protestos pós-eleitorais, com danos causados por incêndios, vandalismo e outros incidentes. No entanto, esses danos não estão cobertos pelas apólices convencionais.
“No sector de seguros, eventos como instabilidade governamental, mudanças políticas e crises sociais são classificados como riscos políticos, que impactam directamente os investimentos e operações das empresas”, explicou Gamito.
A crise pós-eleitoral levou ainda à reavaliação do risco por parte das empresas de resseguros. A recente queda do rating de Moçambique, de CCC+ para CCC, provocou uma revisão das políticas de preços. “O risco político, antes considerado baixo, tornou-se agora uma preocupação real para as seguradoras”, disse Gamito.
A avaliação final dos efeitos dos protestos no sector segurador só será possível após o fecho das contas de 2024 e a apresentação dos relatórios financeiros das seguradoras no primeiro trimestre de 2025.
Apesar dos desafios, Manuel Gamito destacou que as seguradoras moçambicanas estão a investir em inovação e modernização, com destaque para a implementação do Sistema de Informações de Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil Automóvel (SORCA), que visa facilitar o acesso aos seguros e garantir maior transparência.
O sector de seguros continua a ser afectado pela crise pós-eleitoral, e o aumento da procura por coberturas específicas para risco político, bem como os ajustes nos preços dos resseguros, são reflexos da nova realidade económica e política do país. (AM)