Por Ricardo Dias
Maputo (MOZTIMES) – O presidente da ExxonMobil para Upstream, Dan Ammann, reuniu-se, na semana passada, em Maputo, com o Presidente Daniel Chapo. No fim do encontro afirmou ter informado ao presidente acerca do compromisso da empresa com o projecto de Gás Natural Liquefeito (LNG) e com as comunidades locais.
No entanto, o pesquisador Rui Mate, especialista na indústria extractiva do Centro de Integridade Pública (CIP), entende que a visita de Ammann a Moçambique tem um valor estratégico de negociar vantagens fiscais antes da decisão final de investimento, que poderá ocorrer no próximo ano.
Sobre o anúncio de apoio às comunidades na construção de escolas, hospitais e infraestruturas sociais, Mate entende que esse não era o ponto central do encontro pois os valores envolvidos nestas obras são insignificantes face aos investimentos esperados.
O projecto Rovuma LNG, liderado pela ExxonMobil para a extracção de gás natural, processamento em LNG e exportação, tem um investimento estimado de cerca de 30 mil milhões de dólares, mas ainda não foi tomada a decisão final de investimento, fundamental para o avanço do projecto.
De acordo com Mate, a ExxonMobil está a dar sinais de vida, demonstrando que ainda pretende investir no país e que apenas aguarda pelo momento certo.
“As empresas estão a querer negociar vantagens fiscais a seu favor, tendo em conta a fragilidade em que se encontra o país”, disse Mate.
O analista recordou que o Presidente Chapo tem o desafio de encontrar soluções rápidas para conquistar a sua legitimidade, em virtude de um processo eleitoral que foi descrito como altamente fraudulento e que tem resultado em manifestações populares, que já perduram há quatro meses, de contestação dos resultados.
“Se ele (Presidente Chapo) conseguir trazer as empresas de LNG de volta a Cabo Delgado, terá a simpatia de uma parte da população”, afirmou Mate.
O analista entende que a insegurança em Moçambique, causada pelos ataques terroristas e mais recentemente pelas manifestações populares de contestação aos resultados eleitorais, coloca o Governo numa posição de fragilidade na negociação da retoma dos projectos de LNG.
A ExxonMobil, que detém a concessão da Área 4 para a exploração de gás offshore no distrito de Palma, em Cabo Delgado, já adiou, várias vezes, a decisão final de investimento devido à insegurança que assola a província desde 2017.
“Quanto pior for a posição política e económica, melhor será a situação negocial deles (ExxonMobil) porque estão a encontrar um país instável, o que implica custos para garantir essa estabilidade”, explicou Mate. (RD)