- Abudo Garufo, activista dos Direitos Humanos em Cabo Delgado, diz que muitos financiamentos não chegam às comunidades beneficiárias.
Por Noémia Mendes
Maputo (MOZTIMES) – A Organização Internacional para as Migrações (OIM) e o Governo do Japão vão desembolsar 11 milhões de dólares para financiar o reforço das actividades de segurança comunitária e de fronteiras na província de Cabo Delgado.
Segundo a OIM, serão beneficiadas indirectamente cerca de 280 mil pessoas nos distritos de Mueda, Palma, Mocímboa da Praia, Muidumbe, Macomia, Quissanga, Negomano e Ibo.
De acordo com a chefe da missão da OIM, Laura Tomm-Bonde, o projecto será implementado nos próximos três anos e fortalecerá a coordenação da migração e as estruturas de segurança nas áreas afectadas pelo terrorismo.
O projecto inclui a formação de 100 agentes da polícia em segurança comunitária, práticas sensíveis ao género e resolução de conflitos. Além disso, prevê-se a construção de 13 novos postos policiais, a reabilitação de outros cinco e a edificação de um posto de travessia em Negomano (Mueda), para melhorar a eficiência operacional e a segurança nas fronteiras.
“O projecto actuará em três principais áreas: primeiro, vamos estabelecer as estruturas comunitárias; depois, buscaremos construir a confiança entre as autoridades e as comunidades; e, por fim, promoveremos a formação de agentes da polícia e a construção de novos postos policiais”, afirmou Laura Tomm-Bonde, durante a cerimónia de lançamento do projecto na sexta-feira (07).
Em 2022, o governo do Japão doou material de controlo de fronteiras para reforçar a vigilância nas zonas fronteiriças de Cabo Delgado e Niassa. A doação visava travar a entrada de terroristas. No entanto, os ataques às comunidades em vários distritos da província continuam a ocorrer.
O activista dos Direitos Humanos e residente em Cabo Delgado, Abudo Garufo, considera que ainda há muito trabalho a ser feito para garantir a segurança das comunidades.
“Ainda há fragilidades no combate ao terrorismo. O nosso governo não está suficientemente preparado para enfrentar essa ameaça e precisa de equipamento adequado e excelente capacitação para travar um combate efectivo”, afirmou Garufo, em entrevista.
O activista recordou que, nas últimas semanas, residentes de aldeias entre Macomia e Awasse abandonaram as suas casas por temerem a presença de terroristas na região.
“Observámos várias famílias a abandonar as suas residências, desde Macomia até Awasse, devido à presença de terroristas nas proximidades”, referiu Garufo, acrescentando que muitos deslocados procuraram refúgio na vila de Macomia, em Montepuez e na cidade de Pemba.
“É difícil combater o terrorismo no país, porque, muitas vezes, os financiamentos dessas organizações não chegam às comunidades que deviam beneficiar-se deles”, afirmou.
Um estudo recente do Centro de Integridade Pública (CIP) sobre a situação de segurança e as condições socioeconómicas dos deslocados que regressaram a Cabo Delgado concluiu que, apesar das melhorias nos distritos a norte do rio Messalo, a segurança na província continua precária.
O terrorismo já criou mais de um milhão de deslocados, dos quais cerca de 600 mil regressaram às suas terras de origem, mas vivem em constante insegurança devido aos continuados ataques dos insurgentes, sequestros, decapitações e destruição de infraestruturas na província, refere o relatório. (NM)