– Candidato presidencial da oposição não é visto em público desde a última segunda-feira e convocou revolta popular a partir da “caserna para lutar pelo povo”
– Igreja Católica apela ao diálogo e considera um possível governo de unidade nacional
Por Noémia Mendes
Maputo (MOZ TIMES) – A Comissão Nacional de Eleições (CNE) vai anunciar os resultados finais das eleições de 9 de Outubro, na tarde desta quinta-feira, em Maputo, num contexto de crescente medo de violência pós-eleitoral em Moçambique.
O candidato da oposição, Venâncio Mondlane, não é visto em público desde a última segunda-feira quando foi atacado por granadas de gás lacrimogénio pela Polícia antimotim, durante uma conferência de imprensa na capital Maputo. Do esconderijo, Mondlane convocou os seus apoiantes para dois dias de greve a começar precisamente no dia em que serão anunciados os resultados eleitorais.
“Estamos a decretar a abertura das portas da revolução em Moçambique. A partir do dia 24, que é o dia em que a Comissão Nacional de Eleições quer anunciar os resultados eleitorais, nós vamos reactivar a segunda etapa das manifestações, ou a segunda fase do nosso roteiro revolucionário em Moçambique. Vamos paralisar o país”, disse Mondlane num vídeo transmitido na sua página de Facebook onde tem centenas de milhares de seguidores.
Mondlane não esteve presente nas cerimónias fúnebres do seu advogado, esta quarta-feira em Maputo. Dinis Tivane falou em sua representação e explicou que Mondlane não participa directamente do funeral por “estar no ostracismo, por estar na caserna para melhor lutar pelo povo, um povo indefeso.”
Essencialmente, Mondlane contesta os resultados preliminares das eleições que vêm sendo divulgados pelas comissões provinciais de eleições e que conferem vantagem ao candidato presidencial da Frelimo, Daniel Chapo, e ao seu partido. Ele afirma que não concorda com os resultados e refere que, com base na contagem paralela de votos que a sua equipa fez, ganhou as eleiçõess, mas a vitória foi-lhe retirada pela fraude.
Observadores nacionais e internacionais, com destaque para a Missão de Observadores e União Europeia, referem que houveocorrência de fraude eleitoral, incluindo casos de enchimento de urnas em algumas províncias do País.
Para a candidata a governadora de Maputo pelo partido da oposição Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Fátima Mimbire, se o partido no poder, Frelimo, e a Comissão Nacional de Eleições não emitirem sinais para um acordo, o anúncio dos resultados na quinta-feira, “pode nos levar a uma escalada de violência, dado que há provas que houve enchimento de urnas”, disse Mimbire em entrevista.
“Se a CNE divulgar os resultados assim como estão, o país pode ser conduzido para uma crise pós-eleitoral”, acrescentou, enfatizando que “é preciso que haja partilha e distribuição dos assentos com base no que cada um dos partidos conseguiu nestas eleições, incluindo o PODEMOS, MDM e o Nova Democracia”.
Igreja Católica propõe Governo de Unidade Nacional
Os Bispos Católicos de Moçambique emitiram um comunicado na passada terça-feira sobre o processo eleitoral no qual lamentam que tenha ocorrido fraude eleitoral e apelam ao diálogo e à formação de um Governo de Unidade Nacional.
“Infelizmente, mais uma vez, verificaram-se fraudes grosseiras. Repetiram-se enchimentos de urnas, editais forjados e tantas outras formas de encobrir a verdade. As irregularidades e fraudes, a grosso modo impunemente praticadas, reforçaram a falta de confiança nos órgãos eleitorais, nos dirigentes que abdicam da sua dignidade e desprezam a verdade e o sentido de serviço que deveria nortear aqueles a quem o povo confia o seu voto”, refere a carta dos Bispos.
“A nossa mensagem reiterada, e hoje ainda mais sublinhada, é um forte apelo para que travemos a violência, os crimes políticos e o desrespeito pela democracia. Tenhamos a coragem de enveredar pelo diálogo e de repor a verdade dos factos” afirmam os Bispos e apelam “a não recorrer ou fomentar a violência, a ter a coragem do diálogo e a criar espaços de colaboração na governação e considerar um possível governo de unidade nacional”.
Falando pela primeira vez sobre a tensão pós-eleitoral, o Presidente Filipe Nyusi disse que não há motivos para revolta popular contra resultados de um processo eleitoral que ainda está em curso.
“Inquieta a instigação de que o país, nos dias 24 e 25 de Outubro, tenha manifestação sobre resultados que ainda não tiveram o seu desfecho nas instituições apropriadas. Se ninguém sabe quem ganhou ou perdeu, como é que ele (Venâncio Mondlane) sabe?”, questionou Nyusi.
O Presidente condenou ainda o assassinado do advogado e mandatário da oposição, cinco dias após a ocorrência, e prometeu investigações.
Face à convocação de manifestações no dia de anúncio de resultados eleitorais, esta quarta-feira a Polícia exortou aos cidadãos e aos partidos políticos a cumprir a Lei e a evitar manifestações ilegais (NM).