– FRELIMO tem o maior número de assentos parlamentares desde o fim do regime do partido único e a RENAMO perde a posição de maior partido da oposição
– Há medo de violência pós eleitoral e o candidato presidencial está em parte incerta desde segunda-feira dia 21, donde apela à manifestação popular contra a fraude eleitoral
Maputo – (MOZ TIMES) – O candidato Presidencial da FRELIMO, Daniel Chapo, foi declarado vencedor das sétimas presidenciais em Moçambique, com 70.67% de votos, tornando-se assim no 5º presidente do país africano. O seu partido, FRELIMO, venceu as eleições legislativas com mais de 76% de votos, conquistando 195 dos 250 assentos parlamentares, segundo dados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), esta quinta-feira (24), na capital, Maputo. A participação foi de 43.48 %, uma das mais baixas de sempre.
Chapo, de 47 anos de idade, era dado como favorito para ganhar a eleição presidencial, beneficiando do facto de estar a concorrer pelo partido no poder desde a independência do país, e que controla os órgãos de gestão eleitoral e exerce grande influência sobre os tribunais eleitorais.
O principal partido da oposição, a RENAMO, teve a sua pior derrota de sempre, conquistando apenas 20 mandados parlamentares, uma redução de mais de 50%, contra os 51 mandatos que conseguiu da eleição passada, em 2019. Com estes resultados, a RENAMO perde a posição de segundo maior partido da oposição, posição que passa agora a ser assumida pelo Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), que conseguiu 31 assentos parlamentares.
O candidato da RENAMO, Ossufo Momade, também não conquistou os melhores resultados, obtendo a percentagem mais baixa de sempre alguma vez obtida por um candidato daquele partido, com 5.81% dos votos, correspondentes a 403 591 votos válidos, no total.
O PODEMOS é um partido formado por dissidentes da FRELIMO e liderado por Albino Forquilha, também antigo membro da FRELIMO.
O Movimento Democrático de Moçambique, MDM, conseguiu apenas 04 mandatos parlamentares, perdendo 02 em relação à legislatura prestes a terminar. O candidato Lutero Simango, obteve, 223 066 votos, equivalentes a 3.21% do total de votos válidos.
Fraude e medo de revolta popular
Venâncio Mondlane, candidato presidencial independente apoiado pelo PODEMOS, obteve 1 412 517 de votos, correspondentes a 20.32%, tornando-se no segundo candidato mais votado. No entanto, Mondlane não reconhece os resultados eleitorais, alegando que houve fraude, que lhe tirou a posição de vencedor das eleições. Citando dados de contagem paralela de votos, realizada pela sua equipa, Mondlane diz que ganhou a eleição presidencial e que o PODEMOS venceu as eleições legislativas.
Observadores domésticos e internacionais, incluindo a Missão de Observação Eleitoral da União Europeia, reportam ter testemunhado casos de enchimento de urnas em algumas províncias do país.
Os resultados eleitorais são anunciados num ambiente de grande tensão, com o segundo candidato presidencial mais votado a convocar manifestações populares para contestar os resultados eleitorais nas ruas.
“A manifestação é contra a mentira e a adulteração dos resultados eleitorais em todo o país, pelo que devemos mostrar ao partido no poder que chegou a hora e quem manda é o povo”, disse Mondlane, em uma live na sua página do Facebook na Terça feira (23). Falando de hoje, a capital, Maputo, acordou desérta, com medo de manifestações populares violentas e de confrontos com a Polícia.
Na segunda-feira, 21, a capital, Maputo, e outras cidades do país tiverem uma revolta popular, que causou, pelo menos, três mortos e mais de 100 feridos, para além de dezenas de detidos, segundo dados do Centro para a Democracia e Direitos Humanos (CDD).
Na noite de sexta-feira, 18 de Outubro, o advogado de Venâncio Mondlane, Elvino Dias, e o mandatário do PODEMOS, Paulo Guambe, foram assassinados a tiro, por desconhecidos, quando conduziam, no centro da cidade de Maputo. Mondlane acusa as Forças de Defesa e Segurança de terem assinado os seus colegas. A Polícia prometeu investigar o assassinato, mas, até aqui, ninguém está detido.
No funeral de Dias, realizado esta quinta-feira, milhares de apoiantes do PODEMOS manifestaram-se com cartazes e cânticos, repetindo o refrão “a FRELIMO não vai governar”.
Os próximos dias serão importantes, para monitorar a tensão pós-eleitoral no país africano, com grandes reservas de gás natural, grafite, carvão mineral e outros recursos naturais abundantes, mas com uma grande população jovem com elevados índices de desemprego e de pobreza urbana.
Os Bispos Católicos de Moçambique emitiram uma carta a apelarem ao dialogo entre as principais forças Políticas e a propor a formação de um possível Governo de Unidade Nacional. (NM)