– Família afirma que ele recebia ameaças de morte por apoiar Venâncio Mondlane
Por Ricardo Dias
Maputo (MOZTIMES) – Arlindo Chissale, jornalista do Pinnacle News e apoiante fervoroso do candidato presidencial Venâncio Mondlane, está desaparecido desde a noite de 7 de Janeiro, em Cabo Delgado. Suspeita-se que tenha sido raptado por razões políticas, conforme relatado por uma fonte familiar.
Chissale comunicou à família que pretendia viajar de Pemba a Nacala, por via terrestre, usando transporte público num percurso de cerca de 450 quilómetros. Saiu de casa durante a tarde, num horário em que já não havia transporte directo entre Pemba e Nacala. Horas depois, ficou incontactável. A última vez que manteve contacto com um familiar, informou que estava no cruzamento de Silva Macua, a cerca de 80 quilómetros de Pemba.
O jornalista tentou desistir da viagem duas vezes, alegando que “a situação não está boa”, mas, à terceira tentativa, seguiu viagem. Desde então, nunca chegou ao destino e o seu paradeiro continua desconhecido.
Segundo um familiar próximo, na manhã de 7 de Janeiro, Chissale arrumou as malas e dirigiu-se à estação de transportes. Contudo, regressou a casa por volta das 9 horas, explicando que não havia viajado porque “a situação não está boa”. Mais tarde, voltou à estação às 12 horas, mas novamente regressou às 13 horas, repetindo a mesma preocupação à esposa. Por fim, às 15 horas, decidiu embarcar. Algumas horas depois, comunicou que estava no cruzamento de Silva Macua, a cerca de 120 quilómetros da vila-sede de Macomia.
Por volta das 19 horas, a esposa de Chissale tentou contactá-lo, mas, apesar de o telemóvel chamar, ele não atendeu. No dia seguinte, 8 de Janeiro, os seus telemóveis deixaram de estar operacionais.
“Acredito que o seu desaparecimento tenha relação com questões políticas, pois ele apoiava fortemente Venâncio Mondlane e o PODEMOS”, afirmou uma fonte familiar.
O PODEMOS é o maior partido da oposição parlamentar resultado das eleições de 9 de Outubro. Membros e simpatizantes do partido, sobretudo aqueles que contestaram os resultados das eleições, têm sido alvo de perseguições e assassinatos. Até agora, foram registadas seis vítimas de ataques por indivíduos desconhecidos: cinco mortos e um sobrevivente. Os resultados das eleições deram vitória ao partido Frelimo, no poder há 50 anos, e ao seu candidato presidencial, Daniel Chapo.
“Já se passou muito tempo desde o seu desaparecimento. Estamos inconsoláveis”, disse a fonte familiar, explicando que Chissale já vinha preparando a família para a possibilidade de ser vítima de rapto ou assassinato devido às perseguições políticas que enfrentava.
Nos últimos anos, Chissale destacou-se na política, inicialmente como simpatizante da Renamo, onde foi assessor de imprensa de Raúl Novinte enquanto presidente do Município de Nacala. Após a cisão na Renamo, quando uma parte dos membros seguiu Venâncio Mondlane, Chissale tornou-se um apoiante notável de Mondlane e do PODEMOS, que endossou a candidatura presidencial de Mondlane.
Numa das suas aparições mais recentes, Chissale gravou um vídeo a apoiar a fase mais crítica das manifestações denominadas Ponta de Lança, que, entretanto, não chegou a realizar-se.
Como jornalista, Chissale trabalhou numa rádio comunitária em Nacala, gerida pelo Governo através do Instituto de Comunicação Social (ICS), e era actualmente um dos jornalistas mais destacados do Pinnacle News, um site especializado na cobertura da insurgência em Cabo Delgado.
Casos de desaparecimento de jornalistas têm sido reportados em Cabo Delgado, supostamente envolvendo militares. O caso mais recente foi em 7 de Abril de 2020, quando Ibrahimo Mbarruco, jornalista e locutor da Rádio Comunitária de Palma, foi raptado e nunca mais encontrado. (RD)