– Analistas políticos apontam o diálogo como via para a estabilidade no pós-eleições.
Por Sheila Nhancale
Maputo (MOZTIMES) – O Presidente da República, Daniel Chapo, reuniu-se na noite deste domingo em Maputo, com o seu principal opositor, o antigo candidato presidencial Venâncio Mondlane. De acordo com uma nota oficial divulgada pela Presidência na madrugada desta segunda-feira, o encontro teve como objectivo “discutir soluções face aos desafios que o país enfrenta”.
A reunião marca a primeira vez que os dois líderes dialogam desde as eleições de Outubro, cujos resultados foram contestados e desencadearam uma onda de protestos e confrontos em diversas regiões do país.
“O encontro reforça a necessidade de aprofundar a reconciliação e consolidar um ambiente político estável, essencial para o desenvolvimento socioeconómico do país”, lê-se no comunicado.
Jaime Guiliche, docente de Ciência Política na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, referiu em entrevista ao MOZTIMES que a reunião cria expectativas positivas, por representar um primeiro passo concreto para uma possível pacificação, embora o conteúdo do diálogo ainda não tenha sido tornado público.
“Desde o início da crise pós-eleitoral, a grande expectativa era a realização de um encontro entre os actores mais relevantes deste processo. E eu, particularmente, sempre defendi que a prioridade deveria ser um encontro entre os candidatos presidenciais, e não necessariamente entre partidos políticos”, afirmou Guiliche.
“Mondlane, sendo o segundo candidato mais votado, possui um peso político significativo, o que justifica plenamente a sua inclusão em qualquer diálogo para a resolução da crise”, acrescentou.
Guiliche destacou ainda a importância da presença de mediadores e/ou observadores no encontro, nomeadamente o bastonário da Ordem dos Advogados, Carlos Martins. “Isto demonstra a seriedade da reunião e a necessidade de um acompanhamento institucional para garantir transparência e legitimidade ao processo”, sublinhou.
Para o analista político Arcénio Cuco, o encontro é relevante para a inclusão de todos os protagonistas na crise pós-eleitoral, considerando que um diálogo sem Venâncio Mondlane seria ineficaz. “Um diálogo sem um dos principais protagonistas não iria surtir nenhum efeito”, afirmou Cuco em entrevista ao MOZTIMES. “O que se pode esperar agora é que o diálogo signifique o fim da crise pós-eleitoral que se arrasta desde as eleições de Outubro”, acrescentou.
As eleições presidenciais de Outubro passado foram classificadas como fraudulentas por vários observadores domésticos e fortemente contestadas pela oposição, resultando em tensão política e manifestações de grande escala, violentamente reprimidas pela Polícia. Pelo menos 361 pessoas morreram durante as manifestações, a maioria baleadas em confrontos com as forças policiais, segundo dados da plataforma Decide, uma organização não-governamental que monitora a violência pós-eleitoral em Moçambique.
O encontro acontece um mês depois de o Presidente Chapo ter assinado um Compromisso Político para o Diálogo Nacional com nove formações políticas que participaram nas sessões de diálogo político, sem a inclusão de Venâncio Mondlane. Este compromisso visa estabelecer princípios e directrizes para um diálogo nacional inclusivo, abordando questões essenciais como a revisão constitucional e a governação. (SN)