– A maior fronteira entre Moçambique e África do Sul esteve encerrada, esta quarta-feira
– O Conselho Nacional de Defesa e Segurança reuniu-se, pela primeira vez, para avaliar o impacto dos protestos na segurança nacional
Por Stélvio Martins e Noémia Mendes
Maputo (MOZTIMES) – A Polícia matou sete pessoas, esta quarta-feira, (13), na cidade de Nampula, durante as manifestações convocadas pela oposição, para contestar os resultados eleitorais. Quatro pessoas ficaram feridas, incluindo dois agentes da Polícia e 22 pessoas detidas. Um edifício do governo local foi incendiado pela população, furiosa, no bairro periférico de Namicopo.
Todos os sete mortos foram atingidos por balas reais, disparadas pela polícia, quando populares incendiaram pneus e bloquearam acessos, naquele bairro populoso em Nampula.
Testemunhas no local dizem que as mortes foram causadas por polícias, que dispararam balas reais e de borracha contra cidadãos. Alguns cidadãos estavam em suas residências. Em retaliação, a população queimou o posto administrativo municipal daquele bairro.
“A Polícia da Unidade de Intervenção Rápida baleou um taxista e morreu aqui, perto do posto. Uma criança foi alvejada na nádega e duas pessoas foram alvejadas, lá em cima, com tiros”, contou António Adelino Amorim, funcionário do conselho municipal, que estava a trabalhar quando tudo aconteceu.
A população, depois, reagiu com violência, atacando a Polícia e os funcionários municipais. “O meu colega foi apedrejado na cara, e está no hospital. Queriam nos queimar, a mim e ao meu colega. Alegavam que queriam enterrar o corpo aqui dentro, no Posto Administrativo”, contou Amorim.
A irmã de uma das vítimas mortais lamentou o ocorrido e disse que o seu irmão não estava a se manifestar, mas se encontrava em casa de um familiar, quando a Polícia chegou e começou a disparar contra as pessoas. Exigiu uma solução política para a crise pós-eleitoral que opõe o Governo e a oposição, devido às alegações de fraude.
Segundo a Rede Moçambicana dos Defensores dos Direitos Humanos (RMDDH), os confrontos iniciaram com a queima de pneus pela população nas zonas de Waresta e Namicopo e a Polícia reagiu, agredindo os manifestantes e, até, jornalistas também foram agredidos pela Polícia, quando tentavam fazer a cobertura dos acontecimentos.
As últimas manifestações de contestação de resultados eleitorais já causaram dezenas de mortos, milhares de feridos e destruição de infraestruturas, privadas e públicas. A Polícia prometeu tolerância zero à nova fase de manifestações, que iniciou esta quarta-feira, mas a população desobedeceu.
A fronteira de Ressano Garcia, a maior entre Moçambique e a África do Sul, esteve encerrada todo o dia de quarta-feira devido ao bloqueio causado pela população local, sobretudo os jovens. O encerramento da fronteira de Ressano Garcia afectou o comércio internacional e as actividades no porto de Maputo, o maior do país, estiveram paralisadas.
O corredor da Beira, que liga o porto da Beira ao Zimbabwe, também foi negativamente afectado pelas manifestações, esta quarta-feira.
Venâncio Mondlane, o candidato presidencial segundo mais votado nas eleições de 9 de Outubro, disse que as manifestações deverão continuar, até sexta-feira, com o foco nas cidades capitais, nas fronteiras, nos corredores logísticos e nos portos.
Actos terroristas
O Chefe do Departamento de Relações Públicas da Polícia em Nampula, Dércio Samuel, descreveu as manifestações populares como “actos terroristas”, justificando assim a reacção dura da Polícia.
“O grupo incendiou o posto administrativo de Namicopo, atacou um membro da Polícia e um camponês foi agredido pelos membros descontentes do partido PODEMOS. Com essas ações, que se assemelham a actos de terrorismo, a Polícia da República de Moçambique foi obrigada a intervir, imediatamente, para resgatar o colega em perigo”, disse em entrevista.
Mesmo com relatos e testemunhos e imagens amplamente divulgadas nas redes sociais, a Polícia não quis confirmar as mortes e atirou a responsabilidade ao Hospital Central de Nampula (HCN).
“A Polícia não pode confirmar ou declarar óbitos no local. O que a Polícia fez foi resgatar os feridos e levá-los ao HCN, que fará a avaliação dos feridos resgatados”, afirmou. “Não temos como declarar algo com certeza, pois não somos a instituição competente para isso. Registamos, porém, quatro feridos, que foram levados ao hospital, para avaliação”, disse.
Entretanto, o Presidente Filipe Nyusi reuniu, esta quarta-feira, o Conselho Nacional de Defesa e Segurança, para avaliar o impacto dos protestos na segurança nacional e afirmou que “deplora a tentativa velada de subversão da ordem democrática legitimamente instituída e de colocar entraves ao funcionamento das instituições, à livre circulação de pessoas e bens, com consequências desastrosas sobre a economia nacional”, segundo um comunicado distribuído à imprensa.
“As autoridades competentes foram instadas a identificar os responsáveis pelos actos em alusão, para a devida responsabilização”, referiu. (SM/NM)