- Presidente diz que suas palavras foram retiradas do contexto e manipuladas
Por Noémia Mendes
Maputo (MOZTIMES) – O Presidente Daniel Chapo corrigiu, esta terça-feira, o seu discurso belicista contra as pessoas envolvidas nos protestos contra o custo de vida. Na segunda-feira, durante um comício popular na cidade de Pemba, Chapo havia afirmado que estava disposto a “jorrar sangue para defender a pátria contra as manifestações”. No entanto, esta terça-feira, disse a jornalistas que as suas palavras foram tiradas do contexto e manipuladas.
“Eu assisti todas as vossas peças (jornalísticas), estão muito bem-feitas, mas temos situações em que pessoas acabam retirando, portanto, umas palavras fora do contexto, em que foram pronunciadas com o objectivo de manipular a opinião pública”, disse Chapo, em Pemba, no final da sessão do Conselho de Ministros, que decorreu naquela cidade.
Depois de alegar que o seu discurso foi manipulado, Chapo mudou de abordagem e apelou ao fim das manifestações. “Estamos a apelar para que as pessoas parem de fazer manifestações violentas, ilegais e criminosas e passem, portanto, a conviver normalmente na sociedade”, afirmou.
O Presidente insistiu que as “manifestações são criminosas, violentas e ilegais e não constam da nossa Constituição da República”.
De facto, as manifestações em Moçambique têm sido violentas e ilegais, caracterizadas pela destruição de infraestruturas públicas e privadas, bloqueamento de estradas, incêndio de públicos e do edifícios do partido no poder, Frelimo, saque de lojas. A Polícia geralmente responde com violência, disparando para matar e ferir manifestantes. Dados de organizações da sociedade civil indicam que mais de 300 pessoas foram assassinadas em confrontos com a Polícia desde o início das manifestações, em Outubro do ano passado.
Os protestos ressurgiram após a exigência do líder da oposição, Venâncio Mondlane, de que os preços dos produtos básicos deviam baixar, o que teve forte apoio popular.
Daniel Chapo tem endurecido o discurso contra as manifestações, chegando a equipará-las ao terrorismo que afecta a província de Cabo Delgado. Pelo menos em quatro ocasiões, o Presidente afirmou que os protestos são comparáveis aos actos terroristas registados na região. A primeira vez foi durante a tomada de posse do vice-comandante-geral da Polícia, onde afirmou que as principais ameaças à segurança eram o terrorismo, os Naparama e as manifestações, dando ordens à Polícia para combatê-los.
Chapo voltou a fazer declarações semelhantes num encontro recente com diplomatas em Maputo e, mais recentemente, em Mocuba, Zambézia, durante a abertura do ano operacional militar, onde deu ordens às chefias militares para combater as manifestações. No comício de Pemba, foi a quarta vez que Chapo colocou os protestos populares ao mesmo nível do terrorismo. (NM)