– 14 apoiantes da oposição foram assassinados desde o início da crise pós-eleitoral
– A violência contra opositores é um padrão histórico em Moçambique
Por Sheila Nhancale
Os assassinatos de membros da oposição continuam a ser uma realidade no governo de Daniel Chapo. Neste sábado, Leão de Deus Nhachengo, apoiante do ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, foi encontrado morto na margem de um rio, no distrito de Zavala, em Inhambane, com três marcas de balas, após ter desaparecido de madrugada.
“Ele era conhecido por apoiar Venâncio Mondlane embora tenha sido membro da Renamo no passado. Foi levado por desconhecidos e encontrado morto esta manhã. O corpo apresentava três ferimentos fatais e estava próximo de um rio local”, relatou ao MOZTIMES Wilker Dias, director da Plataforma Decide.
“A situação é preocupante. Estamos a registar mortes e desaparecimentos de opositores o que nos leva a crer que são actos ligados a questões políticas”, acrescentou Dias.
O assassinato de Nhachengo é o caso mais recente de mortes envolvendo membros da oposição durante o governo de Chapo. No dia 9 de Março de 2024, dois membros do partido PODEMOS, Daniel Ricardo Guambe e Rafito Sebastião Sitoe, foram mortos a tiro em Massinga, Inhambane.
A violência contra opositores é um padrão histórico em Moçambique. “Sempre que um partido ou movimento se opõe ao partido no poder, há uma resposta violenta. O objectivo é eliminar os líderes e intimidar os demais manifestantes”, afirmou em entrevista ao MOZTIMES o sociólogo João Feijó. Recordou o assassinato de activistas e o desaparecimento forçado de Arlindo Chissale, jornalista e apoiante de Venâncio Mondlane. “O Governo recorre a estas tácticas para desarticular a oposição”, acrescentou Feijó.
O jornalista Fernando Lima, em entrevista ao MOZTIMES, observou que a violência contra opositores está ligada à actuação política. “Não é uma coincidência. Existe um nexo claro entre ser da oposição e ser alvo de assassinatos. Estes casos precisam de uma investigação rigorosa”, afirmou Lima, enfatizando que a Procuradoria-Geral da República deve se envolver de forma mais assertiva.
Lima apelou também para uma maior acção da sociedade civil e das organizações internacionais, como as Nações Unidas, no combate à repressão política em Moçambique.
Dados da Plataforma Decide indicam que, desde Dezembro de 2024, 14 membros da oposição foram assassinados. Além disso, entre Outubro de 2024 e Março de 2025, mais de 350 pessoas foram assassinadas em contextos pós-eleitorais, sendo 38 dessas mortes registadas entre Janeiro e Março de 2025.
Enquanto o governo de Daniel Chapo permanece no poder, a impunidade continua a ser uma questão crítica em Moçambique, especialmente em relação aos assassinatos e desaparecimentos de opositores políticos. (SN)