Por Noémia Mendes
Maputo (MOZTIMES) – O número de crianças mortas durante as manifestações em Moçambique subiu para 17, de acordo com dados divulgados pela plataforma da Sociedade Civil de Advocacia pelos Direitos das Crianças.
Dezasseis crianças morreram vítimas de balas reais disparadas pela Polícia, e um bebé de seis meses, morrei vítima de inalação de gás lacrimogéneo, em casa, revela um relatório da plataforma 3R. Organizações como a Rede CAME, ROSC, Rede da Criança, FDC RECAC, Observatório dos Direitos das Crianças (ROSC e CESC) e OKHALA W’AMIRAVO fazem parte da Plataforma.
Para além das vítimas mortais, 43 crianças foram vítimas de violência relacionada com manifestações pós-eleitorais, nas províncias de Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Tete, Manica e Maputo.
A faixa etária das crianças afetadas varia entre seis meses e 16 anos. A polícia tem sido apontada como a principal responsável pelas mortes, sendo que a maioria dos baleamentos fatais ocorreu com tiros na cabeça.
A plataforma DECIDE reportou, até 5 de dezembro, um total de 90 mortes, 293 baleados e 3.493 detidos em todo o país desde o início das manifestações, a 21 de outubro.
A província de Nampula foi identificada como o epicentro da violência contra crianças, apresentando um cenário alarmante que exige uma resposta urgente das autoridades.
“Estes casos revelam o uso excessivo da força e a incapacidade do Estado de garantir o respeito pelos direitos das crianças. É inaceitável que, no século XXI, crianças continuem desamparadas e desprotegidas, sem qualquer tipo de assistência do Estado”, lê-se no da plataforma 3 R.
Entre as histórias de dor, está o caso de Alberto António, pai de Gildo António, de 16 anos, morto pela polícia enquanto vendia cana-de-açúcar no mercado de Namina, Nampula. “Estou a chorar pelo Governo. Não sei o que fazer. O meu filho nem sequer estava nas manifestações. Quero justiça”, desabafou António em entrevista fornecida a OKHALA W’AMIRAVO na cidade de Nampula.
Outra vítima é uma criança de três anos, baleada no pé enquanto acompanhava a mãe, Natércia Simbine, a uma padaria no bairro de Maxaquene, Maputo. A bala perfurou o pé da criança antes de se alojar no pé da mãe, que até hoje não recebeu assistência governamental.
Francisca Libombo, mãe de um rapaz de 14 anos, relatou que o filho foi atropelado no primeiro dia dos panelaços, em 15 de novembro. “Recebemos uma visita de uma organização, mas do Governo não tivemos qualquer apoio. Sinto que fomos abandonados, principalmente as crianças vítimas destas manifestações”, lamentou Francisca, em uma entrevista feita ao MOZTIMES.
A falta de respostas das autoridades aumenta o sentimento de desamparo entre as famílias afetadas, que continuam a apelar por justiça e apoio. (NM)