- O assassinato de membros da oposição é uma prática recorrente do regime em Moçambique
- Desde o início da crise pós-eleitoral, pelo menos 106 membros do PODEMOS foram assassinados
Por Ricardo Dias
Maputo (MOZTIMES) – O deputado Dias Coutinho, do recém-chegado ao parlamento partido PODEMOS, abandonou a sua casa há seis meses para viver num esconderijo, na cidade de Nampula, por temer pela sua vida.
Coutinho contou, em entrevista ao MOZTIMES, que está fora de casa desde que foi anunciado como cabeça-de-lista a Governador na província de Nampula. Segundo ele, as ameaças e perseguições começaram imediatamente após a divulgação da sua candidatura.
A perseguição e os assassinatos de figuras da oposição são práticas recorrentes em Moçambique. Quando a Renamo era o principal partido da oposição, muitos dos seus membros foram assassinados misteriosamente, mesmo em locais públicos. Desde que o PODEMOS ganhou maior expressão política, com o apoio à candidatura presidencial de Venâncio Mondlane, os seus membros têm sido perseguidos e assassinados.
No dia 18 de Outubro, o secretário-geral do PODEMOS denunciou, durante uma conferência de imprensa em Maputo, que 106 membros do partido haviam sido assassinados nos últimos três meses, no contexto das manifestações de contestação aos resultados eleitorais.
Coutinho é um dos 43 deputados eleitos pelas listas do PODEMOS e tomou posse no dia 13 de Janeiro, para a 10.ª legislatura da Assembleia da Republica, eleito nas sétimas eleições gerais de 9 de Outubro.
Como deputado, Coutinho representa um órgão de soberania e informou o parlamento sobre a sua insegurança, mas não recebeu uma resposta satisfatória.
“Até agora posso dizer que durmo num armazém de construção. Em casa, há bastante tempo que não durmo e nem com esta tomada de posse me sinto seguro”, afirmou.
De acordo com o parlamentar, a sua família também esteve foragida, mas regressou à casa devido à necessidade de cuidar de um dos membros que sofre de uma doença crónica.
Antes de ser eleito deputado, Coutinho trabalhava como formador no Instituto de Formação de Professores de Marrere. Contudo, segundo ele, a sua filiação política trouxe-lhe problemas na instituição. “Os funcionários são todos da Frelimoe não admitem essas brincadeiras (de ser da oposição)”, explicou.
A perseguição e o assassinato de membros da oposição, nem mesmo de deputados, não é novidade. Num passado recente, Jeremias Pondeca, que foi deputado da Renamo, foi assassinado na cidade de Maputo, no contexto do conflito pós-eleitoral.
O MOZTIMES reportou pelo menos oito assassinatos a tiro até ao início de Janeiro, especialmente nas províncias da Zambézia, Nampula e Cabo Delgado. (RD)
















