Por António Cumbane e Ricardo Dias
Maputo (MOZTIMES) – As manifestações contra os resultados eleitorais estão a ser marcadas pelo roubo de armas e pela libertação de reclusos, em algumas prisões distritais. Até aqui, houve, pelo menos, cinco ataques a subunidades policiais, seguidos de roubo de armas de fogo. Eventualmente, pode haver mais casos não documentados. Foram também registados dois casos de invasão a prisões e libertação de reclusos, ambos na Província da Zambézia.
O incidente mais recente ocorreu esta quarta-feira, no distrito do Ile, Província da Zambézia. Manifestantes atacaram e libertaram 78 reclusos numa unidade prisional. Na sexta-feira, 6 de Dezembro, um ataque semelhante acontecera no distrito de Morrumbala, também na Zambézia.
As Províncias de Maputo, Inhambane e Nampula também registaram incidentes similares. Na cidade de Maputo, os manifestantes atacaram um posto policial no Zimpeto e roubaram, pelo menos, uma arma AKM, no dia 22 de Novembro.
Na província de Inhambane, a 30 de Novembro, os manifestantes tentaram invadir a penitenciária distrital de Massinga, no que não tiveram sucesso. Entretanto, no dia 2 de Dezembro, atacaram o posto policial do povoado de Mangumete, no distrito de Inhassoro, onde se apoderaram de duas armas AKM, queimaram a residência do chefe do posto policial e libertaram reclusos das celas.
Em Nampula, registaram-se, pelo menos, dois incidentes envolvendo unidades policiais. O primeiro foi no posto administrativo de Chalaua, distrito de Moma, no passado mês de Outubro. Os manifestantes atacaram uma subunidade policial, onde se apoderaram de, pelo menos, uma arma de fogo. O último incidente nesta província ocorreu em Novembro e teve como alvo um posto administrativo e agentes da Polícia de Protecção, no bairro de Namicopo.
A polícia exigiu a devolução imediata e incondicional das armas apoderadas pelos manifestantes.
“A Polícia exige a devolução imediata e incondicional de todas as armas roubadas durante as incursões dos membros e simpatizantes do partido PODEMOS”, disse Orlando Mudumane, porta-voz do Comando-Geral da Polícia, sem quantificar o número de armas. “Já abrimos processos-crime contra os autores materiais destes actos”, acrescentou.
Sobre a mais recente libertação de reclusos da prisão do Ile, Álvaro Arnaça, diretor das penitenciárias na Província da Zambézia, contou ao MOZTIMES que os manifestantes se deslocaram ao estabelecimento prisional, onde o director tentou negociar com eles, mas não foi fácil. “Bateram-lhe na cabeça com uma pedra e partiram para a violência. Arrombaram os cadeados do portão principal e de todas as celas”, disse Arnaça.
A invasão à prisão do Ile ocorreu na manhã desta quarta-feira, por volta das dez horas. Foi solicitado o reforço da Polícia, mas esta não conseguiu conter os manifestantes.
“A equipa da prisão ouviu rumores de uma possível invasão à prisão, tal como acontecera em Morrumbala [na mesma província], pelo que se antecipou, trancando os reclusos nas celas. No entanto, quando os manifestantes chegaram ao local, abriram as celas e ameaçaram de morte quem não quisesse escapar”, explicou Arnaça.
Os ataques a prisões e unidades policiais representam uma ameaça acrescida à segurança pública, com a proliferação de armas nas mãos de civis, que podem ser usadas para assaltos a pessoas e residências.
O partido PODEMOS nega qualquer responsabilidade pelos ataques a subunidades policiais e prisões. Nesta quinta-feira, apresentou uma queixa-crime à Procuradoria da República da Cidade de Maputo contra o porta-voz da Polícia, Orlando Mudumane, acusando-o de atentar contra o bom nome do partido ao afirmar que membros e simpatizantes do PODEMOS estão envolvidos em actos de vandalismo.
“Este é um discurso falso e infundado, com a finalidade de manchar o PODEMOS perante a sociedade”, afirmou Sebastião Mussanhane, secretário-geral do partido. “Queremos que seja responsabilizado por estas acusações, que comprometem o bom nome do partido PODEMOS”, acrescentou, defendendo que Mudumane deve provar as acusações que fez.(AC/RD)
(Texto atualizado às 16h45, com as declarações do secretário-geral do PODEMOS incluídas nos dois últimos parágrafos)